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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O País de faz-de-conta

O Brasil realmente é

Como um País de faz-de-conta.

Desde sua descoberta,

Que os gestores tudo aprontam

Confiantes na impunidade,

Mas o povo paga a conta.

*

Já Pero Vaz de Caminha,

O escrivão e descobridor,

Relatando o achado ao Rei,

Pedira um grande favor,

Para promover seu genro,

Sem cerimônia e pudor.

*

Dono da Capitania

Sentia-se seu donatário:

Sem prestar conta a ninguém

Com regime autoritário,

Pois sua sucessão era por

Sistema hereditário.

*

O País pouco progrediu

Com esse sistema falido,

Porém quem pagou pelo erro

Foi o povo muito sofrido.

Todavia seu donatário

Saiu-se mais enriquecido.

*

O Governador-Geral,

Chamado de Vice-Rei,

Pouco ou quase nada fez:

Agia conforme sua lei;

Só governava a Bahia,

Auxiliado por sua grei.

*

Nepotismo esclarecido

E malversação total

Foi nossa característica

Desde a fase colonial.

Neste tipo de governo,

A corrupção foi geral.

*

E com a família real,

A esbórnia se exacerbou:

Gastava o dinheiro público,

Seja qual fosse o valor

E sempre aumentava o imposto

Quando o auso não era a favor.

*

Já chegou com comitiva

Feita de bajulador;

Tinha garantia do Rei

De lhes fazer mui favor:

Terra e auxílio pecuniário

Para ter o seu labor.

*

O Rei era o dono de tudo

E geria a seu bel-prazer,

Decidia até quem vivia

E também quem ia morrer.

Quando sobre algo decidia,

Nada se podia fazer.

*

E com Dom Pedro Primeiro,

O primeiro imperador,

Existiam os três poderes

E o Poder Moderador

Para vetar decisões

Que não eram a seu favor.

*

Só se ocupava com farra

E conquistar mais amante;

Não pensava no progresso

Do Brasil nenhum instante

E como administrador,

Foi péssimo governante.

*

E ainda entregou o Brasil a

Um imperador-menino,

Que nem podia se cuidar

Nem de nada tinha atino

E já começou a traçar

Esse nosso mau destino.

*

O segundo imperador

Gostava muito de viagem:

Não p’ra levar a outros países

Nosso interesse e mensagem,

Porém para com os seus

Ídolos fazer tietagem.

*

Somente se interessava

Pela filosofia e ciência;

Com nossos problemas públicos

Nunca tivera paciência.

O que realmente imperava

Em tudo era a ineficiência.

*

Com o advento da república

Como estava, continuou:

Privilégios para os ricos

E para os pobres piorou;

Nem mesmo p’ra os ex-escravos

A situação melhorou.

*

Os órgãos de faz-de-conta

Já tinham sido formados

Para melhorar a vida

Dos mui mal intencionados:

Como desviar verbas públicas

E explorar os humilhados.

*

O Poder Executivo,

Gerido por Presidente,

É o maior exemplo de

Instituição incompetente,

Pois só serve p’ra pilhar

O erário com clã e parente.

*

Repartem o País conforme

Aliado e partidarismo

Sem sequer se preocupar

Com nosso funcionalismo,

Que aumenta a cada dia para

Atender fisiologismo.

*

Ele só se preocupa em

Viajar, prorrogar mandato,

Negar as denúncias feitas

Contra quem ele tem trato

E até mesmo defender

Quem cometeu estelionato.

*

O Congresso Nacional,

Símbolo de ineficiência,

É também exemplo de

Nosso atraso e incompetência.

O País progrediria muito

Mais com a sua inexistência.

*

Só tem, mesmo, serventia

Para obter impunidade

P’ra quem tiver envolvido

Com a criminalidade,

Pois precisa se eleger

Para ter imunidade.

*

Todos nós sabemos que,

Quando o indolente Congresso

Vai votar um importante

E necessário processo,

Procura um jeito de adiar

Ou de entrar logo em recesso.

*

Só tem a preocupação

Com seu salário aumentar.

Mesmo já ganhando muito

E o povo disso falar,

Querem até aumento da

Sua verba parlamentar.

*

Só legisla em causa própria

Nosso Poder Judiciário

Para aumentar as vantagens

Do seu já gordo salário

Sem nos dar satisfação

Desse hábito arbitrário.

*

Um órgão de faz-de-conta

Que nunca ninguém condena.

Se chegar a condenar,

Jamais cumpre toda pena,

Pois as leis são ultrapassadas

E a sentença é pequena.

*

Somente funciona para

Quem pretende andar na linha;

Só se preocupa com as

Questões de pequena rinha,

Mas ele é implacável

Com o ladrão de galinha.

*

A justiça brasileira

Não funciona nem no tranco.

Só pune pequenos crimes

Como roubo ou assalto a banco,

Mas uns nunca pune, como

Os de colarinho-branco.

*

Se entrar na justiça para

Pedir indenização,

Tem que ter muita paciência

P’ra esperar a decisão,

Pois quem receberá é

A terceira geração.

*

O sistema de justiça

É realmente um caso sério:

Há tantos recursos que

Parece não ter critério;

Como anda tão lentamente,

Mais parece um megatério

*

Nossos Tribunais de Contas

Contam piada de mau gosto.

Não contam nem fiscalizam.

Sua função é um desgosto

Se encontrarem algo errado,

Simplesmente viram o rosto.

*

Próprio em país de faz-de-conta

Feitos p’ra não funcionar,

Pois são feitos por pessoas

Que têm de fiscalizar,

Que nomeiam seus partidários

P’ra seus gastos aprovar.

*

O sistema de polícia

É algo que nem se fala,

Faz de conta que existe;

Se alguém chamar, nem se abala,

E se vier, é atrasada,

E em todos mandando bala.

*

Só consegue resolver

Um por cento de homicídio;

Está preocupada com

Salário, bônus, dissídio;

Somente está preparada

Para resolver suicídio.

*

É pra combater o crime,

Que independe de salário,

Mas com proteção do Estado,

Age de modo arbitrário.

E ao invés de a lei defender,

Ela faz é o contrário.

*

Se alguém vai para polícia,

É com segunda intenção:

Vai com intuito em obter

Vantagem co’a outra função,

Que é usar o Estado

P’ra extorquir o cidadão.

*

Nosso sistema de saúde

Há muito tempo está doente;

Não há remédio nem médico

Para atender o paciente.

No corredor (gente morre)

Deste sistema indolente.

*

O dinheiro da saúde

Está depositado em Berna;

É por isso que essa crise

Para muitos é eterna.

Se você sofrer um arranhão,

Querem é cortar sua perna.

*

P’ra marcar uma consulta,

Leva mais de um mês,

E ainda tem de chegar cedo

Para aguardar a sua vez.

Se perguntar se será

Atendido, ouve um talvez.

*

Se uma pessoa ficar doente,

For procurar um doutor,

Vai logo é lhe aplicando

Uma injeção para dor;

E se alguém for reclamar

Dizem: “faço-lhe um favor”

*

Quando tiver um problema,

Que só resolve no SUS,

É necessário passar

Pelo caminho da cruz;

É mais fácil rezar ou

Apelar para Jesus.

*

A situação chegou a ponto

De o doutor ter que escolher

O paciente mais grave para

Ele poder atender,

Porém, se os outros piorarem,

Com certeza vão morrer.

*

A saúde está muito doente,

Tem que levá-la p’ra UTI;

Porém ninguém a socorre:

O que faz é só mentir.

Vamos assistindo à míngua

Ao nosso povo partir.

*

O sistema educativo

Há tempo ninguém educa

Porque a metodologia

Está é mais que caduca;

O estudante só aprende

Se tiver uma boa cuca.

*

Gasta-se muito dinheiro,

Mas com desvios e desperdício.

A escola se sucateia,

Reprovação virou vicio.

Todos sabemos que o ensino

Em nosso País é fictício.

*

O aluno não aprende física,

Geografia nem matemática,

História, biologia, química,

Sociologia, informática

Nem falar, ler e escrever

Conforme nossa gramática.

*

E nas competições de

Âmbito internacional,

Nosso aluno nos envergonha

Com esse ensino imoral;

Vê-se que está precisando

É voltar para o MOBRAL.

*

Sendo assim, o Executivo

Finge que vai governar;

O Congresso Nacional

Finge que vai legislar

E o Poder Judiciário

Finge que vai condenar.

*

O médico finge que cura,

A polícia finge que prende,

Professor finge que ensina,

O aluno finge que aprende,

O cidadão quer consulta

E o INSS finge que atende.

Manaus, 07/04/09

Bento Sales.