Desenho de Taciane, minha filha de seis anos.
Vou
fazer uma homenagem aos pais diferente. Eu ainda tenho pai, mas seu papel em
minha vida foi meramente biológico. Então, quem considero meu pai é meu avô
paterno, pois a formação de meu caráter é baseada nele. Foi quem me mostrou o certo e o errado. Ensinou-me a
ser justo, honesto e humano. Para relembrar nossa convivência, há alguns anos,
fiz um cordel relatando sua importância em minha vida e nossa rotina. Após alguns
dias, telefonei para ele e minha avô (na época, ainda viva; faleceu há um ano) me
disse que ele se emocionou tanto a ponto de chorar. Fiquei contente porque
dentre seus setenta netos, eu fazê-lo se emocionar. Apesar de morar distante
dele, ligo periodicamente; para meu pai,
nunca, uma vez que não se importa comigo. Então meu avô merece essa simples
homenagem, visto que é pai de vários pais. Este cordel eu considero minha meia biografia.
A FAZENDA VÁRZEA REDONDA
(Este cordel é dedicado aos
meus queridos avós Antonio e Olga)
Quando eu ainda era pequenino
E morava no interior,
Meus pais me abandonaram,
Porém alguém me amparou
E me deu amor e carinho
Devolvendo o meu valor.
Trata-se dos meus avós,
Por quem tenho muito apreço,
A eles sempre serei grato
Por me tirar de tropeço
E ainda hoje me estimar tanto
Até mais do que eu mereço.
E foi na Várzea Redonda,
Onde nasci e fui criado,
E aprendi as coisas da vida
E o que é certo ou errado,
Com o seu exemplo de vida
Meu caráter foi formado.
Há também outras pessoas,
Que tenho que pôr na lista,
Porque muito me ajudaram
Em obter tanta conquista;
Por eles tenho carinho:
São meus tios Deta e Batista.
E quando eu tinha doze anos,
Fui cuidar dessa fazenda;
Cuidava de ovelha e gado
E na roça eu tinha prenda.
Fazia tudo com presteza,
Pois também eu tinha renda.
Ganhava pelo trabalho
Novilha e ovelha por ano,
Roupa, roça p´ra plantar;
E alimento quotidiano,
E um auxílio pecuniário,
Se não me é ledo engano.
Ali enfrentei muitas secas:
Para salvar o rebanho,
Cortava os galhos das árvores
Seja qual for o tamanho,
Mas tinha que se servir
A alguns, de modo tacanho.
Sapecar mandacaru
Era uma outra alternativa
P´ra dar à vaca leiteira
Que se encontrava ativa
Ou àquela que estava caída,
Já que o alimento a reativa.
Levá-lo para os Brejinhos
Era também uma opção
Porque não tinha forragem
Quando chegava o verão,
Mas, por ser longe, tomava
Água só dia sim, dia não.
Eu saía de madrugada
De bicicleta ou a alazão,
Às vezes, era na Burra
Conforme a disposição,
Mas o modo mais freqüente
Era o jumento Grandão.
Na fazenda eu fazia tudo:
Era vaqueiro,aboiador,
Fazia cerca de arame ou lombo,
De ovelha era pastor,
Cuidava da plantação,
Colheita, era agricultor.
No rebanho de bovino,
Só havia gado de raça,
Que não era superado
Por nenhum outro da praça,
Vaca que seu leite dava
Para encher uma cabaça.
Havia nelore, mestiço,
Guzerá, gi, holandês,
Hindu-brasil e pé-duro
E outras duas raças
ou três,
O fato é que o rebanho
Agradava ao freguês.
Eu aboiava todo rebanho
Pelo respectivo nome,
E ele me obedecia mesmo
Que estivesse com fome,
Mas uns só me atendiam pelo
Seu apelido ou codinome.
Era a Aparência, a Bicó,
A Saboneta, a Serrinha,
A Saia-Branca, a Garota,
O Guzerá, a Rainha,
O Cupido, o Negro, que
Com o Holandez tinha rinha.
Porém tudo melhorou
Com a construção do Açude,
Pois com água em abundância,
Todos mudam de atitude:
Plantar, colher o ano todo
E também cuidar da saúde.
Nós plantávamos de
tudo:
Batata, cana, goiabeira,
Capim, milho, mamoeiro,
Feijão, melão, macaxeira,
Pepino, melancia, abóbora,
Ata e também bananeira.
E também tinha fartura
Tratando-se de
pescado,
Pois botamos nele
peixes
Porque não tinha
sangrado.
Pescávamos facilmente
Onde ele tinha secado.
Os peixes eram diversos:
Curimatã e sardinha
Piau, corró, traíra, mandi,
Bodó, molão e branquinha
E outras espécies que eu
Conhecimento não tinha.
Pegávamos peixes com
Lata, anzol ou
landoá,
Com galão de pesca ou pau,
Mas uns tinha que tarrafar,
Outros usávamos ramos
A fim de os encurralar.
Quando animais adoeciam,
Tinha que deles cuidar;
Seja bicheira ou tinguir,
Broca ou endemia a contagiar.
Com instrução do meu avô,
Tratrava-os até curar.
E também, na minha folga,
Nunca havia brincadeira,
Eu entrava na mata para
Extrair mel de abelha e cera
De italiana e arapuá,
Jatir, que dava em
arueira.
Porém, tive que ir embora,
Em busca de uma ilusão,
Meu avô vendeu a fazenda
Porque não achou outra opção,
Cuidar dela não podia,
Pois não tinha condição.
Nesses tempos de menino,
Sem saber, eu era feliz,
Mas eu tomei outro destino
Longe de minha raiz,
Mesmo vivendo sem
pais
Vivi muito bem e em paz.
Muito tempo se passou,
Mas me deixou bom lembrar
Do lugar onde nasci
E de quem me quis cuidar.
“Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá”.
Agradeço ao meus avós
Por tudo que me têm feito,
Pois, quando achavam que minha
Vida não teria mais jeito,
Minha estória eles mudaram
Com a causa e com o efeito.
Vivendo
Ávidas
Recordações
Zelosamente
Especiais de bons
Acontecimentos
Razões
Excepcionais que
Deus nos permite
Organizar em
Nossas reminiscências e
Dedicarmos a quem
Amamos.