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domingo, 25 de setembro de 2011

PSICOLOGIA DE UM MELANCÓLICO

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.

Eu não sei por que nem para que existo!
Sem opção, já nasci nesta indigência.
Sou eterno servil da sobrevivência,
Que priva minha essência, mas resisto!

Ainda tenho que a minha alma, além disto,
Conquistá-la antes de minha consciência;
Porque para a infinita convivência
Com arcanjos tenho que ser benquisto.

Se, quiçá, fosse um mero natimorto,
Seria sobremaneira mais feliz,
Visto que não sofreria assim, absorto.

O penar não me leva ao Cosmo Eterno,
Muito menos por ser um infeliz.
Não suporto mais viver neste averno!



  



Este poema é uma reedição atendendo  o pedido de um amigo pessoal, que gosta dele. Pediu-me para mostrar para meus novos amigos. Fiz este poema inspirado no famoso soneto 
Psicologia de um vencido de Augusto dos Anjos.                                                                 
          

   
    




domingo, 18 de setembro de 2011

Cordel da segurança do trabalho

Desenho de Taciane, minha filha de seis anos.



Fiz este cordel há alguns anos para participar da Semana Interna de Prevenção a Acidente do Trabalho (SIPAT) promovida pela Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA) na empresa onde eu trabalhava. Os amigos me convidaram para participar porque era conhecido por ter ganhado alguma vezes concursos de frases sobre prevenção de acidente de trabalho. Pediram-me para fazer um texto, mas logo pensei em um cordel. Eles aceitaram. Foi um sucesso! Quero dedicar essa postagem à minha grande amiga    
Cissa do blog   HumorEmConto por me chamar, gentilmente, de Rei do Cordel. Quero agradecer a todos os amigos que visitarem o Literatura (folhas soltas).
                     
      





Amigo, preste atenção,
Naquilo que vou falar:
Tenha bastante cuidado
Quando assim for trabalhar
Para continuar saudável
E nunca se acidentar.

Porque quando se acidenta,
Muito se sofre e padece,
Há sequela e cicatriz
Que não sara nem se esquece,
Além da humilhação
Que se sofre no INSS.

Ao executar sua tarefa,
Faça-a com muito cuidado,
Ponha tudo no lugar,
Seja bem organizado,
Para jamais aumentar
A lista de acidentado.

Nenhum chefe nem patrão
Não quer que você se mate,
Nem que nada lhe aconteça
E que sua saúde se gaste,
É por isso que fazemos
Essa importante SIPAT.

Para nunca se arriscar,
Dou-lhe um importante aviso:
Jamais use ferramenta
De maneira de improviso
Porque sempre o resultado
É certeza o prejuízo.

Use sempre o equipamento
De proteção individual,
Que para sua segurança,
Não há melhor material,
Pois preserva a saúde e a vida
De maneira sem igual.

Também deve prevenir-se,
Pois há doenças do trabalho,
Que podem fazer sua vida
Um drama, um atrapalho;
Sua família também sofre
Com sua saúde em frangalho.

Quando alguém se acidenta,
É ruim para todo mundo:
A firma perde o empregado,
A União, porque paga o fundo,
A família fica triste,
E você, com stress profundo.

A vida de acidentado
Não há nada de normal
Passa o dia todo na fila
Da Previdência Social
Para poder retirar
Sua licença salarial.

Produza com qualidade,
Trabalhe com segurança,
Pois será recompensado
Porque teve confiança
De que vencerá na vida
Com a sua perseverança.

Nunca brinque com a vida;
Outros dependem de você,
Cuidado com o próximo,
Todos merecem viver
Com paz e tranquilidade
Num ambiente de prazer.

Esta minha instrução é
A qualquer trabalhador,
Seja vigia, motorista,
Auxiliar, operador,
Almoxarife, mecânico,
Líder, chefe ou diretor.

domingo, 11 de setembro de 2011

A metamorfose

Desenho de Taciane, minha filha de seis anos.


Às seis horas da manhã, Zé Balão fora buscar o jumento Sansão para irem mata adentro sapecar mandacaru (os espinhos) e trazer para alimentar as vacas-leiteiras. Naquele ano, a seca foi braba e não havia forragem para o gado comer. E, para as vacas de leite, que alimentam a família, a comida tem que ser melhor e mais nutritiva para produzir mais leite; para as demais, porém, apenas alimento de subsistência, uma vez que são muitas (a dieta consistia em folhas dos galhos de moquém, juazeiro e catingueira, árvores que se mantêm verdes o ano inteiro, que Zé Balão derrubava). Mesmo tendo apenas quatorze anos, ele era responsável pela pecuária e até pela agricultura da fazenda Boa Esperança, com cerca de cento e cinquenta hectares, que pertencia a seu avô paterno. Ele era muito longevo e doente. Não tinha condição de cuidar do rebanho nem da terra, e como morava com sua avó e com dois netos, que os criou desde criança, pediu ajuda de Zé Balão, que morava com seus irmãos adolescentes mais velhos numa casa próximo da residência de seus avôs na fazenda, pois eles foram vítimas de uma separação conjugal insólita: foram abandonados primeiro pelo pai, depois pela mãe. Cada um seguiu rumo ignorado e diferente. Tinha só dez anos quando foi trabalhar na fazenda, ganhando, além da comida e de algumas roupas feitas de tergal e de volta-ao-mundo, uma cordeirinha por ano, após algum tempo, já tinha seu rebanho.
            Sansão era um animal enorme e forte, porém muito manhoso e indolente. Era polivalente. Zé Balão não fazia nada sem ele: água, lenha, colheita em geral e condução de rebanho eram tudo conduzido pelos dois. Quando Sansão amanhecia com lundu, não queria fazer nada; empacava, cismava de ir na direção oposta, deitava-se com a carga, gemia como quem não agüentava o peso, era uma lástima, um atraso na labuta de Zé Balão, que o castigava para ele se aprumar. Ás vezes, ele apanhava tanto que, ao ser surrado no lado direito da garupa, pendia para a esquerda gemando de dor. Quando derrubava a carga, de propósito, ou se deitava com ela, era espancado espraguejado  e amaldiçoado:
- Inútil! Preguiçoso! Desgraçado! Imprestável! Eu te mato! Deblaterava seu algoz. Sansão ficava inerte, acuado e, muitas vezes, chegou a se sujar de dor e pavor de Zé Balão. De tanto apanhar na cabeça, - geralmente com cipó de mofumbo – não podia ver uma mão levantada, mesmo para um aceno que se esquivava todo como medo de lhe baterem.
            Neste dia, Zé Balão estava exausto. Não toleraria as arteirices de Sansão. Encontraram um pé de mandacaru galhudo e frondoso que dava até mais de uma carga. Cortou os galhos para ter os espinhos queimados e fez o fogo com gravetos de marmeleiro e lenha de catingueira. Após sapecar os espinhos dos galhos, sentiu-se esgotado porque dormira tarde cuidando de uma novilha que encontrara caída de fome e a colocou no jirau. Escorou-se, sentado num tronco de uma imburana de grande copa para descansar um pouco, uma vez que já eram oito horas. De repente, tentou se levantar, porém não pôde. Suas mãos estavam arredondadas como um casco equino, por isso, não conseguiu se apoiar no galho. Tentou gritar: - ai, meu Deus! Mas só conseguiu no pensamento. Soltou um mugido parecido com um relincho. Olhou-se todo e só viu um corpo desengonçado e cinzento de jumento. Como muito esforço, levantou-se. Procurou Sansão, mas não o via. Antenou suas enormes orelhas para o Nascente e vislumbrou, ofuscadamente, pelos raios solares, um homem aparentando meia-idade. “Será o Sansão”? Pensou. “Não pode! Será que eu virei jegue e Sansão, gente?” Ponderou. Logo o homem carrancudo se aproximou dele com um cipó na mão e gritou: “Vamos, preguiçoso!” Deu-lhe uma cipoada na barriga. Pôs a cangalha e os cambitos nele e começou a carregá-lo. “Será que ele vai colocar toda essa carga em mim?” Protestava mentalmente. Todavia, ele colocou. Zé marchou gemendo, porém Sansão, insensível, surrou-lhe impiedosamente nos quartos, nas pernas, na barriga e onde o galho alcançasse.
            Zé Balão seguiu carregado de galhos do cacto, parecendo um cágado de tão grande era o carregamento. O peso era tamanho que suas vértebras pareciam que iam se esfacelar. Seus cascos já estavam estropiados devido às pedras, ladeira e barrocas na vereda. Zé gemia arfava, bufava, entretanto, Sansão não se comovia com seu tormento, seu fardo. Ao contrário, ele o xingava o tempo todo: “se derrubar a carga, seu molenga, eu te mato, viu?”. Eram nove e meia, o sol esquentou. Várias vagens da catingueira fizeram um estrépito forte. Zé Balão acordou:
- Ah, Graças a Deus! Foi só um sonho! Nunca mais vou judiar de Sansão. O jegue olhou para ele com as orelhas murchas como quem não estava acreditando na promessa.
Zé Balão se espreguiçou:
- Mas, ai que dor horrível nas minhas costas!



domingo, 4 de setembro de 2011

Haicai 4

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.
Como tudo no Japão é diminuto e eficiente, o haicai não uma exceção.
Para quem ainda não conhece, haicai ou haikai é um poema de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade, chegou ao Brasil no início do século 20,  hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku. O pioneiro em fazer haicai foi  Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer  dele uma prática espiritual.

O Haicai é feito da seguinte forma:

 -Consiste em 17 sílabas poéticas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas;

- Contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana);

- Refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização);

- Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado;

- Modernamente, apresenta cunho humorístico e de forma livre. 


Ouvia sempre meus colegas falarem de haicai. Achava coisa de outro mundo. Meu professor, Zemaria Pinto, tem um livro intitulado “Corpo Enigma” feito em forma de haicai. Mas nunca tinha visto nem ele falava disso. Um dia, na livraria, vi um livro de Millôr Fernandes chamado "Haiku do Millôr"; li achei fácil e passei a fazer haicai a torto e a direito. Como o Millôr faz o verso de forma livre e rimado, pela influência dele, fiz inicialmente desta maneira. No Japão, é feito sem rima, mas na métrica perfeita. Para mim só tem graça se for rimado. 
Alguns exemplos de autores brasileiros,  japoneses, portugueses e depois os meus:

o sapo, num salto
cresce ao lume do crepúsculo
buscando a manhã
(Zemaria Pinto)



tem cautela;
ajuda o sol
com uma vela
(Millôr Fernandes)

a girafa, calada,
lá de cima vê tudo
e não diz nada
(Millôr Fernandes)

viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
(Paulo Leminski)

ano que termina
areia cheia
conchas mínimas
(Alice Ruiz)

como mão de amigo
o Sol de Inverno
amorna os ombros.
(David Rodrigues)
 

E agora os meus haicais:

Quando a onda se alteia
De hormônio, destrói nossos
Castelos de areia.

No sol de verão,
Me inspira a poesia a compor
Poema com refrão.

Bom de arquitetura,
O João-de-Barro constrói
Sua casa segura.

Ao fazer afago
Em seu dono, o cão o faz
Abanando o rabo.

Leito em espiral,
O rio percorre banhando
Todo o matagal.

Há uma atitude
Para combater a seca:
É construir açude.

Foi na piracema
Que ouvi o grito de socorro,
Em vão, da siriema.

Mais que triste fado:
Os quelônios levarem
Nas costas um fardo!

Foge do destino,
Mudando da região, o
Bravo nordestino.

Alumia a caverna
O pirilampo com sua
Natural lanterna.

Vi no Solimões,
Atracados bem na beira,
Alguns batelões.

À tarde, o nimbo
Escurece o lusco-fusco
Até o seu limbo.



Os rios temporários
Deverão ser represados
Pelos operários.

Verão da Caatinga
É muito devastador
Para jacutinga.


Dedico essa postagem à minha amiga Ma Ferreira do blog    ARTE EM CERAMICA   por ser aficionada por haicais.

Fonte:  Wikipédia