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segunda-feira, 28 de março de 2011

Haicais

Pintura de Taciane, minha filha de cinco de anos.


Como tudo no Japão é diminuto e eficiente, o haicai não uma exceção.
Para quem não conhece, Haicai é um poema de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade e chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku. O Haicai é feito da seguinte forma:

 -Consiste em 17 sílabas poéticas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas;

- Contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana);
-
 Refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização);

- Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado;

- Modernamente, apresenta um cunho humorístico. 

Ouvia sempre meus colegas falaram de haicai. Achava coisa de outro mundo. Meu professor, Zemaria Pinto, tem dois livros intitulado “Corpoenigma” e "Dabacuri" (eu os tenho autrografados) feitos em forma de haicai, duas obras geniais, pois ele é um exímio poeta. Mas nunca tinha visto nem ele falava disso. Um dia, numa livraria, vi um livro de Millôr Fernandes chamado "Raiku do Millôr"; li achei fácil e passei a fazer haicai a torto e a direito. Como o Millôr faz o verso de forma livre e rimado, pela influência dele, fiz inicialmente desta maneira. No Japão, é feito sem rima, mas na métrica perfeita. Gosto de fazer rimado, porém, admiro sobremaneira quem faz com verso branco. 
Alguns exemplos de autores brasileiros,  japoneses e depois os meus:


 para as pernas:


"asas da manhã
flutuando à luz difusa
na pele do vento" (Zemaria Pinto, parte do Corpo Enigma)


para os seios:
"
raízes plantadas
no vasto campo do corpo
- casulos de sonhos" (Zemaria Pinto, parte do Corpo Enigma)

Velho tanque
 uma rã salta
barulho d'água
   (Bashô)


com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério
                    (Millôr Fernandes)


quem ri quando goza
é poesia
até quando é prosa
                    (Alice Ruiz)



esnobar
é exigir café fervendo
e deixar esfriar
                       (Millôr Fernandes)




Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril.
                 (Millôr Fernandes)



Goze.
Quem sabe essa
é a última dose?
                      (Millôr Fernandes)

  
viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
                         (Paulo Leminski)
                         

jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
                      (Paulo Leminski)

o cético sábio
sorri
só com um lábio
                          (Millôr Fernandes)



maravilha sem par
a televisão
só falta não falar
                               ( Millôr Fernandes)

Agora eis uma amostra dos meus haicais que fiz ao longo de dez anos. Como tenho muitos, vou publicar por parte.

O amigo que me adula
Sempre me faz
De gandula.

Sabe o que é o vento?
É o ar em constante
Movimento.

Quando se envelhece,
Muito padece
Nas filas do INSS.

Chega a ser estranho
Esse salário-mínimo
Por ser muito tacanho.

Nos passa a perna
Quem vai para Suíça
Deixar a grana em Berna.

Quando me esbarro
Num carro no barro,
Com ele me agarro.

Por causa do alcatrão,
O cigarro faz muito
Mal ao coração.

A mulher sai do fogão
Para ir pilotar
Um grande furgão.

Por que o Haicai
Do foco literário
Nunca cai?

O jogador gabola,
Egoísta e fominha
Não passa a bola.

O patrimônio
Não casa eternamente
Com o matrimônio.

A farda de militar
Não dá o direito
A ninguém de matar.

O Brasil não terá jeito
Se os políticos não
Largarem esse trejeito...

O demográfico censo
Não é perpetrado
Com mínimo senso.

Não me livro
Da ignorância
Nem lendo muito livro.

É bom que se previna
Das epidemias
Tomando vacina.

O parlamentar cassado
Por todo país
Está sendo caçado.

O homossexual
Tem distúrbios
De origem hormonal?

Há muita menina
Trabalhando nos
Postos de gasolina.

Ao bar, vai o careca
Tomar cerveja
Em sua caneca.

Na briga na sinuca,
Saiu um jogador com
Galo na nuca.

Quando o Congresso
Vai votar um processo,
Entra em recesso.

Ao morder rapadura
Com força, o matuto
Quebrou a dentadura.

Não sou atleta:
Apenas ando um pouco
De bicicleta.

Eu não me atrevo
A viver exclusivo
Do que escrevo.

Não faço poesia;
Se tenho inspiração,
É só fantasia.

Precede a consciência
O instinto em razão
Da sobrevivência.

Existe uma viagem
Que  dispensa passagem
E também bagagem.

 Qual é o ciclo atual?
É a economia informal,
Ou é o ciclo menstrual?

A jurubeba
Não sara pereba
Mesmo sendo natureba.

O mestre simpático
É o que ensina
De modo didático.

Me recorro a Deus,
Maomé,Oxum,Tupã, Ísis,
Padre Cícero ou a Zeus?

Na fique ansioso,
Porque o pior círculo
É o círculo vicioso.

Coitado do Rabelo:
Cada dia que passa,
Fica com menos cabelo.

Sabe qual é
O crente bule?
É o de pouca fé.

Sou assim musical;
Seja na língua formal
Ou na coloquial.

O amor ideal, linda,
É de quatro paredes
E não o da berlinda.

A política neoliberal
Abre a fronteira do país
Para o mercado mundial.

Não tenho site
Nem computador;
Mas tenho insight.

Se tenho ideia de veneta,
Pego logo um papel,
Lápis ou caneta.

Não paro a leitura
Quando estou curtindo
Uma boa literatura.

Não sou o Maurício...
Mas faço poema
Sem sacrifício.

A televisão
Não dá uma
Boa educação.

Não há mais risco
Ao comprar um disco
Com risco.

Este fatídico calor,
Não adianta nem
Ligar o ventilador.

O filho, amigo,
Se não for bem-criado
Pode ser seu inimigo.

Ficar embaixo, em cima
Tanto faz. Porque nasce
Menino ou menino.

É uma bobagem
Fazer no corpo
Um monte de tatuagem.

É uma confusão
Quando vou passear
De condução.

É um peralta
O canguru que,
Ao se assustar, salta.

Por algum instante,
Só se escutava voz
De alto-falante.

Mesmo de cara no chão,
É uma grande invenção
Esse tal de avião.

Veja, Dona Glória,
Como está linda
A aurora!

Quando componho
Um poema,
Uma boa idéia ponho.

Para a seca do Nordeste,
Não há solução
Com projeto agreste.

Vai passado o viaduto
O político acusado
Com um salvo-conduto.

Para ser um professor,
Não basta ser
Um mero emissor.

Que quer ter esperança,
Tem que garantir o
Futuro com poupança.

A política é um tédio
Que não se cura
Com nenhum remédio.

Ninguém é perfeito
Disso não se exclui
Nem o prefeito.

Não gosto da Madonna
Porque ela é matrona e
muito mandona.

Só há muita crítica
Quando se faz
Propaganda política.

Fico com azia
Quando tomo café
De barriga vazia.

Nessa cidade,
Quem não trabalha
Passa necessidade.

Minha Fortaleza,
Com certeza,
É uma beleza.

Perderam a vergonha
De fumar em público
Cigarro de maconha.

Não se remedeia
A índole de ninguém
Numa cadeia.

Todo mundo rechaça,
Quando se aproxima,
Quem bebeu cachaça.

Ouça e veja,
Conheço a voz de quem
Tomou cerveja.

Acho importante
O servente de pedreiro
Ser também estudante.

O nazista racista
Foi discriminado
Pelo povo fascista.

Foi por um triz,
Escapou de acidente
Até uma atriz.


segunda-feira, 21 de março de 2011

PIADAS GRAMATICAIS

 


Gosto de fazer brincadeiras com a língua portuguesa para as pessoas perderam o medo e ganharem afinidade com ela. O português não é difícil; o problema é a metodologia ultrapassada do sistema de ensino vigente que faz com que o aluno crie ojeriza. Já li aqui muito amigos afirmando que são péssimos na nossa língua materna, mas não concordo, pois são exímios manipuladores da língua: expressam-se bem tanto na fala quanto na escrita. Não dominar a gramática, não se significa que não dominam o vernáculo, uma vez que a gramática até o windows ou a internet corrige. O único profissional que tem obrigação de dominar totalmente a língua é o chef na hora do ensopado.



|Pai e professor

Filho tira dúvida com o pai:
- Pai, o certo é o carro atolou-se ou o carro se atolou?
- Bem, filho, se atolar as rodas traseiras, o certo é ''o carro se atolou''; agora se for a rodas dianteiras, escreveremos ''o carro atolou-se''.
- Mas se atolarem as quatro rodas, pai?
- Ah, aí escrevemos ''o carro se atolou-se''.




Carta à mãe
               
Um jogador de futebol viajou para jogar uma partida em outra cidade, sua mãe, preocupada, pedira-lhe para mandar um e-mail quando chegasse lá:
- Mãe, nós cheguemo; já joguemo; não ganhemo nem perdemo: nós empatemo.
               De seu filho, Nicodemo. 






Joãozinho na aula 1


A professora olhou para o Joãozinho e disse:
- Joãozinho, essa maçã aí, na sua carteira. Ele respondeu:
- É pra mim comer, professora. Ela o corrigiu:
- É pra eu comer. Joãozinho:
- Não é para a senhora não, professora, é para mim mesmo.



Joãozinho na aula 2

O professor pediu ao Joãozinho para citar cinco palavras com Z.
Ele respondeu:
- É muito fácil, professor: zóio, zurêa, zuvido, zapragata e zóvos.
Professor:
- Muito bem, Joãozinho, vou te dar uma nota que também começa com Z!
Joãozinho comemora:
-Oba, ganhei uns zôito!



Dois com dúvida

Duas pessoas estavam discutindo sobre a pronúncia de certa de uma palavra:
Um dizia:
- É pregunta!
O outro:
O certo é progunta!

Ficaram nessa teima por algum tempo até passar um homem com um livro na mão. Então resolveram tirar a dúvida com ele.
- Senhor, sabe se é pregunta ou progunta que se fala? Indagou um deles.
- Aí vai depender da prenuncia, moço. Respondeu o transeunte.



Joãozinho na aula 3

A professora mandou o Joãozinho colocar uma caixa vazia na lixeira, mas ele a botou em cima. Ela reclamou:
- Por que não colocou a caixa dentro da lixeira, Joãozinho?
- Porque não cabeu, professora. Ele respondeu.
- Não coube, ela retrucou.
- Agora você vai escrever 100 vezes nesta folha “não coube”, sentenciou a professora.
Passou algum tempo, Joãozinho estava parado olhando para o caderno.
- Escreveu  cem vezes as palavras que lhe mandei? Perguntou a professora.
- Escrevi só 99, professora. Respondeu.
- Por quê? Quis saber ela.
-Porque não cabeu tudo, professora!


Joãozinho na aula 4

A professora diz:
- Ontem fui criança. Isso é passado.
- Hoje sou bonita. O que é isso, Joãozinho?
- É mentira, professora!



Joaquim e Manuel

Joaquim pediu ao amigo Manuel sessenta escudos emprestados, mas só tinha cheque.
- Como se escreve 60, Joaquim?
- Aras, Manel, faça dois de trinta, que somando dá no mesmo!






Escolinha do aluno Joãozinho
  
A professora testando a gramática dos alunos:
- Pedrinho, me dê um exemplo de verbo!
- Bicicreta.
- É bicicleta e não é verbo, é substantivo.
- Zezinho, diga para nós um verbo!
- Prástico.
- É plástico e não é verbo, é também um substantivo.
- Edigarzinho, nos dê um exemplo de verbo!
- Crebrô.
- É quebrou. Isso é verbo, mas está errada!
- Mariazinha, dê aqui para seus colegas um exemplo de verbo!
- Hospedar, professora.
- Muito bem, garota!
- Joãozinho, agora faça uma frase com este verbo que sua colega citou!
- É muito fácil, professora: hospedar de prástico da bicicreta crebrô.
- Zero pra você, Joãozinho!!!



Joãozinho ético

Professor:
- Joãozinho, faça sílaba com todas as vogais usando a consoante C!
- Ca, ce, ci e co.
- Ainda está faltando uma, Joãozinho!
- Essa última não vou falar porque é imoralidade, professor.





   1)  Professor: - O que devo fazer para repartir 11 batatas por 7 pessoas
Aluno: - Purê de batata!


2) Professor: - Joaquim, diga o presente do indicativo do verbo caminhar1
Aluno: - Eu caminho… tu caminhas… ele caminha…
Professor: - mais depressa!
Aluno: Nós corremos, vós correis, eles correm!


3) Professor: - “Chovia” que tempo é?
Aluno:- É tempo FEIO


4) Professor: - Quantos corações nós temos?
Aluno: - Dois, professor.
Professor: - Dois!?
Aluno: - Sim, o meu e o seu!


5) Dois alunos chegam tarde à escola e justificam-se:
A -  Aluno diz: - Acordei tarde, senhor professor!  Sonhei que fui à Polinésia e a viagem demorou Muito.
B - Aluno diz: E eu fui esperá-lo no aeroporto!


6) Professor:- Pode dizer-me o nome de cinco coisas que contenham leite?
Aluno:- Sim... Um queijo e quatro vacas.


7) Professora: 
- Joãozinho, me diga, sinceramente, você ora antes de cada refeição?
Joãozinho:
- Não, professora, não preciso… A minha mãe é uma boa cozinheira.


8)Professora:
- Artur, a tua redação “O Meu Cão” é exatamente igual à do seu irmão. Você copiou?
Artur:
- Não, professora. É que o cão é o mesmo.


9)Professora:
- Bruno, que nome se dá a uma pessoa que continua a falar, mesmo quando os outros não estão interessados?
Bruno: - Professora.

10) Professora:
- Joãozinho, na frase: "Eu estudei toda a lição", o que é o sujeito
Joãozinho:
- Bem, se o sujeito for simples, é ladrão; se for composto é quadrilha; se for oculto é baitola e se for indeterminado é travesti.






Dicionário do Joãozinho:

Abreviatura: ato ou efeito de abrir o carro da polícia
Alopatia: dar um telefonema para tia.
Barbicha: boteco para os homossexuais.
Bode expiatório: é um cabra abelhudo.
Cálice: ordem para ficar calado.
Caminhão: caminho grande.
Catálogo: ato ou efeito de apanhar coisas rapidamente.
Chat: tipo chateação que se faz ao vivo na internet.
Combustão: mulher de seio grande.
Comediante: adiar uma refeição para comer mais na frente.
Computador: queixa de alguém com dor grande.
Compressa: que está apressado.
Cretino: habitante da ilha de Creta, na Grécia.
Destilado: aquilo que não está no lado de lá.
Detergente: ato de prender um indivíduo suspeito.
Determina: ato de prender uma garota.
Diagnóstico: fantasma detectado durante o dia.
E-mail: metade de um coisa.
Esfera: animal feroz domesticado.
Filosofia: é apenas um filho da Sofia.
Homossexual: sabão em pó para as partes íntimas.
Imbróglio: página da internet gratuita onde muita gente está  envolvida.
Leilão: mulher chamada de Leila que é muito alta.
Leptospirose: vírus que infetam laptop.
Karma: expressão mineira para evitar o pânico.
Locadora:  mulher maluca chamada Dora.
Morfologia: ciência que estuda o morfo;

Novamente:  indivíduo que renova sua maneira de pensar.
Obscuro:  "ob" na cor preta.
Pedófilo: profissional que trata dos pés.
Paralítico: pessoa que nasce no estado do Pará.
Pianista: mulher que passa o dia na pia lavando louças.
Quartzo: partze ou aposentzo de um apartamentzo.
Razão: lago muito extenso, mas pouco profundo.
Rodapé: aquele que tinha carro, porém agora roda a pé.
Saara: mulher de Abraão, patriarca bíblico.
Sexólogo: sexo apressado, sem demora.
Simpatia: concordando com a irmã da mãe.
Sossega: afirmação de que não enxerga.
Talento: coisa muito devagar.
Típica: o que o mosquito te faz.
Unção: erro de concordância verbal muito comum. O certo é um é.
Vatapá: ordem do prefeito para tapar os buracos na rua.
Viaduto: tipo de duto urbano por onde passa homossexual adulto.
Viúva: ato de ver uma uva.
Volátil: sobrinho avisando onde vai.



Fonte: O dicionário recebi de um amigo por e-mail, apenas o adaptei e o ampliei. Algumas piadas eu criei; outras estão em domínio público e também as adaptei. 

terça-feira, 15 de março de 2011

NÃO VENDO FIADO



Caro amigo eu lhe peço:
Deixe esse papo furado,
De dizer que está em crise,
Mas vive com mui cuidado
E para sobreviver,
Precisa comprar fiado.

Quem sempre vende fiado
Nunca tem uma alegria,
Ainda perde o freguês,
Também a mercadoria
E nunca vai para frente
Com prateleira vazia.

Se alguém vende fiado
De mui tormento padece,
Só fica no prejuízo
E logo seu lucro desce.
Fiado é que nem cabelo:
Se não cortar, ele cresce.

Porque Deus criou esse mundo
E Eva inventou o pecado;
No sétimo dia folgou,
Pois tudo estava acabado.
Como o Diabo estava à toa,
Criou, então, o tal fiado.

Não adianta, nem insista!
Porque tenho a mente sã,
Não cometo essa loucura
Nem mesmo com mia irmã;
Se quiser meter um fiado,
Então venha amanhã.

Vendo fiado só pra quem
Tem mais de noventa anos,
Acompanhado co’os pais
Insuspeitos, sem enganos
Para serem avalista
E que não sejam insanos.

Para me comprar fiado,
Peço ao amigo que aguarde,
Pois existe um dia certo
Que lhe digo com alarde,
Em que pode se fartar
No dia de São Nunca à tarde.

Já estou acostumado
Com tal conversa fiada,
Pois vem sempre um sujeito
Em hora inapropriada
Com proposta indecente
Que para mim é piada.

Essa questão de fiado
É um discurso maneiro
Que só engana otário,
Para mim é corriqueiro;
Somente vendo fiado
Em trinta e um de fevereiro.

E se estar a pensar
Que vai fazer pé-de-meia,
Quero logo antecipar,
Mesmo que se esperneia,
Que mia agenda de velhacos
Há muito tempo está cheia.

Conheço um caloteiro
Pela cara desconfiada,
Querendo me fazer compra
Ficando toda fiada.
Sai daqui com’um cachorro
Com cauda entre perna enfiada.

Ao amigo peço desculpas,
Se caso se ofendeu, pois
Minha intenção é outra,
Acho que a entendeu
E agradeço sua atenção
Que até agora me deu.


Fiz este cordel para atender um pedido de um amigo comerciante para brincar com seus clientes lhes dizendo que não vende fiado, mas surpreendentemente, ele disse ninguém se ofendeu, fizeram foi gostar do cordel. 

quarta-feira, 9 de março de 2011

A casa

Desenho de Taciane, minha filha de cinco anos.


            Depois de economizar durante quinze anos, o marido conseguiu comprar uma casa de seu intuito: boa localidade, amplo terreno, pátio, precisando de pouca reforma. O casal morou cinco anos no alto da residência de sua irmã, onde tinha, ficticiamente, parte, pois ajudou a comprá-la juntamente com seus dois irmãos. Havia, por parte da esposa, um certo desconforto porque toda mudança ou reforma teria que passar pela aprovação da cunhada. Ela vivia pressionando o marido para saírem de porque estava aborrecida com essa situação, mas ele sempre foi um homem prático e arrazoado: pedia-lhe paciência para que juntasse mais dinheiro para comprar uma casa melhor. Ela aceitava por um tempo, todavia voltava insistir. Deliberaram procurar a casa para ter idéia de preço. Quando gostava de uma, o valor era muito além do que tinham e ainda precisava de reforma. Ficaram nisso durante dois anos. Enfim, encontraram a casa dos seus sonhos. Quando a esposa olhou a documentação, viu uma certidão de óbito da proprietária predecessora. Incontinentimente ela ficou preocupada e, sobretudo, arrependida de ter comprado a casa. Pediu para desfazer o negócio, mas ao ler o contrato, ele viu que continha uma cláusula referente ao arrependimento, que o arrependido teria que pagar uma multa de trinta por cento, o que tornava inviável a aquisição de outra iminentemente. Pediu, então, para ele investigar se ela falecera na casa, uma vez que na certidão de óbito dizia que a causa mortis foi “grande queimado”. O marido inquiriu o corretor; ele disse que não os conhecia, mas achava que isso ocorreu no centro da cidade. Porém ela não acreditou. Durante reforma de duas semanas, um dos trabalhadores subiu no muro e viu o fundo da casa do vizinho repleto de santo. Quando a esposa foi , ele mostrou para ela. Foi a gota d’água para ela ficar mais preocupada, dizendo que não moraria próximo de um macumbeiro, que isso traria azar, mas não era nada disso, apenas o vizinho colecionava santos. durante a mudança, passaram umas moças próximo ao caminhão de mudança e um dos ajudantes mexeu com elas, uma indagou se havia comprado essa casa, ele afirmou que sim, então ela falou para ter cuidado porque morreram uma criança e a mãe queimadas. O rapaz logo alertou o marido para sua esposa não saber, que ela estava muito perturbada com essa história. Passaram a noite de sábado e o domingo, mas não ouviram nem viram nada de incomum. Na segunda-feira, foi uma equipe representante de uma empresa metalúrgica terminar um serviço de grade pendente e, como morava perto, sabia do ocorrido; contaram para ela com requinte de fofoca. Ela ficou em pânico. Queria sair da casa rapidamente, mas o marido pediu para ela não ligar para isso e que era estória de desocupado ou então de invejoso. Ela suplicou para sair de , porém, ele gostou muito da casa e, mesmo tendo prometido para ela que sairia para não enlouquecer, decidira que não a venderia nem sairia de . A filha do casal, de um ano de idade, ficou à vontade na casa, como se tivesse nascido , talvez por não entender a situação. Ela corria de um lado para outro, gritava, jogava bola, era a verdadeira dona da casa. Não ligava para o acontecido. Isso lhe deu firmeza em sua decisão de permanecer na casa, pois também tinha esperança de ela superar essa história toda e curtir seu novo lar. Era uma residência fascinante. Todo mundo ficava apaixonado por ela (exceto sua esposa).          
            A história consiste no seguinte: no reveillon de dois mil e cinco, o casal chegou de uma festa, de madrugada (provavelmente bêbado), com um casal de adolescente do primeiro casamento do marido e uma menina de três anos, filha da esposa do casamento anterior. Ao dormirem, os adolescentes deixaram ligado um ventilador ou computador ou um quebra-luz, segundo várias fontes contraditórias, então um desses utensílios, incendiou-se, propagando para o forro de madeira e para outros objetos domésticos e demais compartimentos. O esposo, segundo algumas fontes, como dormia em quarto próximo da porta de saída, logo saiu com a mulher, mas ela viu que sua filhinha ainda não havia saído, voltou imediatamente para socorrê-la; os adolescentes estavam presos na suíte, pois o teto era de concreto. Neste ínterim, a vizinhança chamara o bombeiro, mas a casa ardia em chamas e fumaça. A mãe conseguiu sair, mesmo muito queimada, com a filha com poucas queimaduras, mas intoxicada com a fumaça e foram levadas ao pronto-socorro pelos amigos, enquanto os bombeiros combatiam o fogo e resgatavam os adolescentes por um orifício que fizeram na lateral da casa. A criança falecera no caminho do hospital por causa do dióxido de carbono inspirado, e a mãe, horas depois, no hospital, em conseqüência das queimaduras de terceiro grau pelo corpo todo.
            A esposa temia por essas pessoas terem morrido dentro da casa, porém ela investigou com os vizinhos para saber estritamente o que ocorrera e constatou que não morreram . Ficou um tanto aliviada, todavia, ainda muito chocada e nervosa com tudo isso. Era uma mulher repleta de fobia, superstição, dogma e crendice, como nunca se viu. Então ele teve idéia de chamar um padre ou pastor para benzer a casa. Ela aceitou. Um obreiro veio pregar para ela e ungiu a casa com óleo ungido e disse que teriam que fazer um voto e ofertar à igrejaDeus é Amor” e assistir a um culto. Assim eles fizeram. Mas ela nunca superou totalmente esse causo. Queixava-se que a casa era mal falada. Ele dizia que não, as pessoas que são maldosas e por isso falam mal das coisas e dos outros. Ele falava que esse enredo não tinha nada a ver com eles, uma vez que a história deles na casa começou quando se mudaram. O que passou com outra família não lhes interessava. Passou-se um ano e ela, de quando em vez, tinha recaída porque algumas crianças vizinhas vinham brincar com sua filha e relembravam o ocorrido. Passou-se um tempo, o casal conversando sobre a casa, o fato passado. Ela perguntou para ele se tinha visto ou ouvido algo estranho, anormal, assustador, sobrenatural na casa. Ele disse que sim. Ela quis saber o que era porque isso lhe motivaria a sair de , mas ele respondeu que o que lhe assustara foi a fatura de água que deu quinhentos e treze reais e trinta e um centavos, uma verdadeira assombração.


Estou publicando este conto em homenagem à minha amiga Laura Brandão do blog humor negro sem censura, que outro dia publicou sobre assombrações e dia sete deste sobre uma casa mal-assombrada.