Desenho de Taciane, minha filha com seis anos e de Bruna, sua amiga com 13 anos.
Estou também no blog As histórias de Emília de minha amiga Emiliana com um texto divertido sobre Telemarketing.
Pela primeira vez em treze anos de trabalho, cheguei à minha casa mais cedo do que de costumo, numa sexta-feira, mas, antes de entrar, ouvi uma voz me chamando:
–
Cinara! Cinara!
– Oi! Era Alcina, minha amiga desde o colégio
e agora semivizinha.
–
Que bom que chegou cedo porque preciso de companhia para ir ali e estava justamente
pensando em ti. – Mas ali, onde?
– No bairro de São Jorge. Vamos no meu carro.
Entre!
Entrei
no carro dela e seguimos de meu bairro, Cachoerinha.
–
O que tu vais fazer lá? Quis saber.
–
Vamos para... é... bem... é que...
–
Sim, para onde, maninha?
–
É... Vamos àquela cartomante que te falei outro dia.
–
Ah, a tal Fátima?
–
Sim. É que estou um pouco nervosa. Por isso não quis ir sozinha. Mas não é
necessário tu entrares. Sei que não gostas disso.
–
Tudo bem, mana!
Depois
de meia hora de trânsito intenso, chegamos à rua, onde morava a tal cartomante
na casa de número 131. Embora não acreditando nisso, entrei com ela. Fiquei
sentada um pouco distante num estofado de capa estampada com flores violetas,
só observando. Era uma sala com cortina nas portas com meia luz. Na entrada,
havia uma cortina rarefeita de canudos de bambu, outros semelhantes a ossos que
funcionavam como chocalhos para anunciar a entrada de cliente. Mais ao extremo,
havia uma mesa onde a anfitriã recebia seus clientes. Alcina entrou e sentou. Passaram-se cinco
minutos, a tal apareceu. Era uma senhora morena, cabelos longos pretos e lisos,
meio indígena, altura média, sobrancelhas finas e arqueadas aparentando uns
cinqüenta anos. Trazia um pano marrom no ombro esquerdo e toda ornamentada com
vários cordões tipo rosário com contas e búzios no pescoço. Com pequeno gesto
facial, cumprimentou Alcina e se sentou. Tirou da gaveta um baralho, encardido
pelo uso e começou a embaralhar as cartas fitando os olhos na Alcina. De quando
em vez, ela se esquivava para esquerda para me observar. “Será que essa bruxa
se invocou comigo?”, Pensei. Para disfarçar, fingi que estava lendo uma revista
e, de cabeça baixa, olhava por cima, mas ela, sorrateiramente, percebia pelo
franzir de minha testa e, quando eu olhava para ela, também disfarçava olhando
para o maço de baralho. Ficamos neste fingimento por vinte minutos. Alcina se
despediu dela e veio ao meu encontro.
–
Vamos?
–
Vamos embora. Eu disse.
–
Tu não queres que ela jogue as cartas
para ti?
– Eu não, não! Respondi meio nervosa. A cartomante só escutando nossa conversa me
olhando. “Eu sabia que as duas estavam tramando contra mim”. Pensei.
–
Deixa de ser boba, ora! Ela não vai te fazer nenhum mal! Eu a conheço.
Fiquei
sem jeito para recusar. Achei que seria mal-educada e fui. A miserável já me
esperava sentada, como se tivesse certeza de que eu iria. “Isso é um complô.
Aquela Alcina me paga!” Murmurei. Ao me aproximar da mesa, ela me cumprimentou
com um gesto positivo com a cabeça e me pediu para sentar por meio de um gesto
com a mão direita. Mirando-me nos olhos, ela começou a traçar o baralho. Dei um
sorriso forçado com apenas o lado esquerdo da boca. A cartomante mantinha a
concentração como se tivesse tentando adivinhar meus pensamentos. Enquanto
isso, a mentecapta da Alcina foi me aguardar lá fora. Fátima tirou uma carta
que tinha o desenho de um... acho que esqueleto com um foice e disse:
– Terá morte na família! E, em seguida,
embaralhou-o novamente e retirou outra carta que me pareceu um Cupido mirando
uma flecha para um casal acompanhado por uma pessoa mais velha:
– Haverá um casamento de um parente bem
próximo que será feliz, mas haverá outro muito infeliz; estou vendo o
sofrimento da mulher porque casará forçada. Tornou embaralhar as cartas e
retirou outra com um desenho de uma criança montada num cavalinho de brinquedo
e disse me mostrando:
– Tu terás uma grande alegria!
–
Alegria de quê? Como? Retruquei. Já estava me aborrecendo com as mensagens
enigmáticas.
–
As cartas não revelam o motivo. Apenas dizem que terás uma grande alegria! E
assim, ela continuou me fazendo várias outras revelações que eu não mais me
interessei porque, cansada, queria mesmo era ir embora, mas a última me deixou
inculcada. Ela retirou uma carta que, se não me engano, tinha um desenho de um
sol com rosto e um menino nu montado num cavalo branco.
–
Tu terás um filho! Concluiu ela me mostrando novamente a carta. Levantei-me e
fiz um gesto de abrir minha bolsa para pagá-la, mas ela interrompeu segurando
no meu braço e me disse que Alcina já havia pagado tudo. Quando a cartomante me
falou que teria um filho, a princípio, mesmo assustada, tive vontade de ir
embora, até perdi o medo por causa deste despautério dela. Tive a certeza de
que era uma capadócia tentando me enganar. “Como posso ter um filho, se há sete
anos eu fiz laqueadura após o nascimento de minha última filha?” Ficava me
indagando. “Aquela cartomante é uma farsante”. Pensava. Passaram-se alguns
meses, todavia aquilo ainda me inculcava. Não sei foi coincidência, mas um
contraparente meu falecera e minha filha primogênita passou no vestibular.
“Será que as profecias daquela charlatã estão se cumprindo?” Eu resmungava. Impressionada,
sentia que minha barriga crescia e, para aumentar mais meu desespero (parece uma coisa!) vi num telejornal, uma mulher processando um médico por ter engravidado
cinco anos após a cirurgia de laqueadura. Logo procurei um médico. Fiz o exame
de ultrassonografia. O médico me disse:
– Não se preocupe,
dona Cinara, porque a senhora não está grávida, não. Somente está mais gordinha.