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sábado, 15 de dezembro de 2012

Cordel: O dia do fim do mundo

Desenho de Taciane, minha filha com sete anos.
Desenho de Ana Flávia, minha sobrinha com cinco anos.

Fiz este cordel em dois mil em parceria com meu amigo e colega de graduação, Maurício Colares, que é um exímio poeta, para apresentarmos num trabalho sobre a escola literária Trovadorismo, de onde a Literatura de Cordel é oriunda. Então, aproveitando o tema vigente, que era profecia do fim do mundo, fizemos o cordel como exemplo. Como o tema é oportuno, eu o atualizei e o adaptei com o momento. Espero que gostem. Quero desejar (se sobrevivermos) a todos os amigos visitantes do Folhas Soltas um Natal e Ano-novo fartos de saúde, paz, realizações e sonhos que sempre precisamos e merecemos.

Agora caros senhores,
Senhoras e senhoritas,
Vamos prosear de um assunto
Há muito bem badalado:
É do dia do fim do mundo,
Que já tem prazo marcado.

Porém, voltemos um pouco,
Pois preveem o fim do mundo
Desde o nosso surgimento;
Mesmo isso sendo infundo,
Nos causa grande tormento
E sentimento profundo.

Quando Deus criou o mundo,
Era tudo maravilha:
Adão não fazia esforço
De fechar nem a braguilha
E Eva não ia à cozinha
Nem para arear a vasilha.

A única concessão
A uma fruteira foi ter,
Dizendo Deus a Eva e Adão:
 “Dessa não devem comer”,
Mas o homem foi seduzido
 E não resistiu ao prazer.

Então, o homem, nesse dia,
Deixou de ser imortal,
Passando a sobreviver
Do seu labor semanal
E, depois de tanto sofrer,
Teve a morte por final.

Mas, enquanto ela não vinha,
De cilada surpreendente,
“De fome um pouco por dia”
Vive o homem decadente
Nos pecados derramados
Por serem tão calientes.

Deus, então, mandou Noé
Se empenhar na providência
De reunir todas espécies
Na sua arca com muita urgência,
Pois, em suas mãos estaria
A nossa sobrevivência.

Eita, que grande chuvueiro
Passou toda a humanidade
Dentro dessa arca lacrada,
Contrita e com ansiedade
Durante quarenta dias
E noites de tempestade!

Ora, sabeis que a natureza
Tem as suas leis inerentes:
Chegará a morte um dia
A todos entes viventes
E a todos que temos vida
Não há de ser diferente.

E vem o apóstolo João
Fazendo revelações
Sobre uma grande hecatombe
Deletéria das nações,
Que acabará com a Terra
E seus filhos aos bilhões.

Diante dessa profecia,
A humanidade mui intenta
Debalde vaticinar
Nosso fim e fica atenta
À data do apocalipse,
Que muito lhe apoquenta.

Todavia, o Nostradamus
Foi quem mais nos comoveu,
Já que acertou até mesmo
O dia em que ele faleceu
E previu três anticristos:
Um não ainda apareceu.

Pelo Napoleão passamos
E pelo Hitler também
E pelas duas grandes guerras
E por desastres além.
Agora nos indagamos:
Será o que que mais vem?

Então, no dia onze de agosto,
Muita gente fez besteira
Vendendo tudo que tinha,
Pena que eu estava sem eira,
Senão, teria até comprado
DVD, TV, geladeira...

Alguns pularam de pontes,
Abandonando seus clãs;
Outros foram pra Brasília
Levando filhos e mães
Para pedir proteção
Ao Lula e ao Magalhães.

Igrejas havia vendendo
Terrenos no etéreo lar.
Até meu amigo Jeordane
Ainda foi um destes comprar,
Mas não quitou o carnê,
Então, vieram lhe tomar.

E na data prefixada,
Ao espetáculo especial,
Foi todo mundo assistir
A esse show sensacional,
Mas, que decepção: veio apenas
Uma chuvinha normal!

E todos que são descrentes
Do fim sobrenatural,
Fiquem de olho, entretanto,
Ao que nos vem fazer mal:
Os enlatados ianques
E um batonzinho fatal.

Para aqueles que temem,
Fiquem mui bem preparados!
É o conselho que damos
De amigos bem informados,
Pois o dia do fim do mundo
Sempre será remarcado.

É dia vinte e um de dezembro
Deste, é a data, embora
Ainda temos a esperança
De não ser a fatal hora.
Será mais um falso anúncio?
Quem sabe, não é agora?

Trata-se de nosso fim
Como o Calendário Maia
Foi interpretado assim,
Mas é mais uma tocaia
Para nos causar chinfrim,
Que de nós merece vaia?

Pois, saber o fim do mundo
É busca sempre em vão;
Temos é que viver bem
Sem perdermos a razão,
Porque Cristo nos falou
Que virá como um ladrão.

Bento Sales e Maurício Colares.
Manaus, 11/08/2000.





sábado, 1 de dezembro de 2012

Estava tudo resolvido

Desenho de Taciane, minha filha com sete anos.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado,
Mas aí ele voltou
Porque é atrevido.
Agora estou doente,
Me disse o doutor,
Com problema de hormônio.
Eu sei e estou ciente
Que ele é o demônio.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.

Já tinha decidido
Que deixaria o marido.
Não vivia mais num mar de rosa
Com esse tal de Tabosa.
Minha vida era uma ilha
Junto com a família.
Como ele não tinha virtude,
Eu tomei uma atitude
E acabar com esse negócio
E pedir-lhe o divórcio.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.

Ele abalou o matrimônio
Porque é um idiota,
Acabou com nosso patrimônio
Entregando ao agiota.
As contas de água e luz nunca pagou
Então a empresa cortou
O fornecimento.
Ele não me dá sossego;
É um tormento
E até me dá medo.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.



Eu não sei o que fazer,
Não tem nada para comer.
A família padece,
Minha filha não me obedece
E meu filho me esquece.
Agora só Jesus!
Na casa falta comida, água e luz
E eu sofro na fila do SUS.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.

Como tudo está no monturo,
Minha família não tem futuro.
Mesmo estando melhor
Na casa do meu irmão,
Mas o que é pior
É que não é a solução.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.


Para que presbítero seja,
Ele deu nossos bens para igreja.
Como é um egoísta,
Queria ser o maior dizimista.
Com seu trejeito
Ele tem que dar um jeito
De me devolver
Tudo aquilo que me roubou
É o que eu tenho a dizer
Porque minha vida acabou.
Viver com ele não mais desejo
Porque é um malfazejo.

Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.

Nesse  círculo vicioso,
O que mais atrapalha
É que ele não trabalha
Porque é preguiçoso.
Eu estou na luta
Para vencer essa disputa.
Minha mente não repousa,
Mas tenho que fazer alguma coisa!
Estava tudo resolvido,
Estava tudo encaminhado
Na mão do advogado.

Bento Sales.

Fiz essa música ao ouvi tantas vezes a lamúria de uma parenta minha contra seu marido. Sempre que eu a via, ela repetia muitas vezes várias expressões queixosas dele e, por essa razão, ficou em minha memória. Então, tive ideia de fazer uma música estilo  rap e  cordel relatando o que ela me falava. Mudei o nome do marido por um parônimo. No entanto, não tive coragem de mostrar para ela, pois poderia ficar constrangida. Bem, passados vinte anos, ela continua com o marido e sempre a fazer as mesmas lamentações, o que ninguém leva mais a sério. 

Estou também no blog Vendedor de Ilusão, do meu grande amigo J.R. Viviani, participando do evento "1º Conto e Prosas"  http://vendedordeilusao.blogspot.com.br/2012/12/contos-e-prosas-apresenta-criacao-de_4854.html#links

sábado, 17 de novembro de 2012

Metalinguagem

Desenho de Taciane, minha filha com sete anos.


Cadê o poema,
Feito de fonema?
Cadê o poeta,
Aquele asceta?
Cadê a estrofe,
Feita com apóstrofe?
Onde está o verso?
Se encontra no verso?
Cadê a rima?
Está lá em cima?
Aonde foi a métrica?
À lauda tétrica?
Cadê o valor?
Está no labor?
Cadê seu tom
E também o som?
Não percebo o ritmo!
É... está arritmo.
Cadê a figura?
Ah, que amargura!
Nenhuma metáfora
Nem mesmo anáfora!
Não vejo a poesia.
É só fantasia?
De mim ela some...
Isso me consome!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Prêmio Dardos




O blog  Folhas Soltas recebeu o Prêmio Dardos.

Recebi esta indicação do meu grande amigo Paulo Sotter, do blog  TARRAFEANDO e também de minha grande amiga Patrícia de Pina do blog Redescobrindo a Alma.
Quero lhes agradecer não só pela lembrança, mas também pela consideração e assiduidade aqui no blog. Também quero recomendar seus blogs para meus leitores. No Tarrafeando, há curiosidades, muita informação útil e cultura. No blog Redescobrindo a Alma, há poesia excepcional.
Eis o que significa o selo-prêmio:
O Prêmio Dardos foi criado pelo escritor espanhol Alberto Zambade que, em 2008, concedeu no seu blog Leyendas de “El Pequeño Dardo”o primeiro Prêmio Dardo a quinze blogs selecionados por ele. Ao divulgar o prêmio, Zambade solicitou aos blogs premiados que também indicassem outros blogs ou sites considerados merecedores do prêmio. Assim a premiação se espalhou pela Internet.
Segundo o seu criador, o Prêmio Dardo destina-se a “reconhecer os valores demonstrados por cada blogueiro diariamente durante seu empenho na transmissão de valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., demonstrando, em suma, a sua criatividade por meio do seu pensamento vivo que permanece inato entre as suas palavras”.
As regras do prêmio estabelecem que os indicados, depois de dizerem quem os presenteou, poderão exibir no seu blog/site o selo do prêmio e deverão indicar outros dez, quinze ou vinte blogs ou sites que preencham os requisitos acima para o recebimento do prêmio.
Indicarei os blogs, no entanto, como não é possível escolher tantos, todos meus amigos podem pegar o selo aqui à vontade.

HumorEmConto – Cissa Romeu
Pecado Capitalma – Helen
CRONUTOPIA – Dilso Santos
Pintando Haikai – Elisa T. Campos
  Ate Hoje. – Célia
LUCIENE RROQUES - Luciene
Relativa Seriedade – Jacques
http://ramanavimana – Almir Ferreira
"Vendedor de Ilusão..." – J. R. Viviani
INTERIORIDADES - AC.

sábado, 3 de novembro de 2012

A CASA

Pintura de Taciane, minha filha com sete anos, então com cinco.

Depois de economizar durante quinze anos, o marido conseguiu comprar uma casa de seu intuito: boa localidade, amplo terreno, pátio, precisando de pouca reforma. O casal morou cinco anos no alto da residência de sua irmã, onde tinha, ficticiamente, parte, pois ajudou a comprá-la juntamente com seus dois irmãos. Havia, por parte da esposa, um certo desconforto porque toda mudança ou reforma teria que passar pela aprovação da cunhada. Ela vivia pressionando o marido para saírem de porque estava aborrecida com essa situação, mas ele sempre foi um homem prático e arrazoado: pedia-lhe paciência para que juntasse mais dinheiro para comprar uma casa melhor. Ela aceitava por um tempo, todavia voltava insistir. Deliberaram procurar a casa para ter ideia de preço. Quando gostava de uma, o valor era muito além do que tinham e ainda precisava de reforma ampla. Ficaram nisso durante dois anos. Enfim, encontraram a casa dos seus sonhos. Quando a esposa olhou a documentação, viu uma certidão de óbito da proprietária predecessora. Incontinentimente, ela ficou preocupada e, sobretudo, arrependida de ter comprado a casa. Pediu para desfazer o negócio, mas ao ler o contrato, o marido viu que continha uma cláusula referente ao arrependimento, que o arrependido teria que pagar uma multa de trinta por cento, o que tornaria inviável a aquisição de outra iminentemente. Pediu, então, para ele investigar se ela falecera na casa, uma vez que na certidão de óbito dizia que a causa mortis foi “grande queimado”. O marido inquiriu o corretor: ele disse que não os conhecia, mas achava que isso ocorrera no centro da cidade. Porém, ela não acreditou. Durante a reforma em duas semanas, um dos trabalhadores subiu no muro e viu o fundo da casa do vizinho repleto de santo. Quando a esposa foi , ele mostrou para ela. Foi a gota-d’água para ela ficar mais preocupada, dizendo que não moraria próximo de um macumbeiro, que isso traria azar, mas não era nada disso, apenas um vizinho que colecionava santos. durante a mudança, passaram umas moças próximo ao caminhão de mudança e um dos ajudantes mexeu com elas, uma indagou se havia comprado a casa, ele afirmou que sim, então ela falou para ter cuidado porque morreram uma criança e a mãe queimadas. O rapaz logo alertou o marido para sua esposa não saber, que ela estava muito perturbada com essa história. Passaram a noite de sábado e o domingo, mas não ouviram nem viram nada de incomum. Na segunda-feira, foi uma equipe representante de uma empresa metalúrgica terminar um serviço de grade pendente e, como morava perto, sabia do ocorrido; contaram para ela com requinte de fofoca. Ela ficou em pânico. Queria sair da casa rapidamente, mas o marido pediu para ela não ligar para isso e que era estória de desocupado ou então de invejoso. Ela suplicou para sair de , porém, ele gostou muito da casa e, mesmo tendo prometido para ela que sairia para não enlouquecer, decidira que não a venderia nem sairia de . A filha do casal, de um ano de idade, ficou à vontade na casa, como se tivesse nascido , talvez por não entender a situação. Ela corria de um lado para outro, gritava, jogava bola, era a verdadeira dona da casa. Não ligava para o acontecido. Isso lhe deu firmeza em sua decisão de permanecer em seu novo recinto, pois também tinha esperança de ela superar essa história toda e curtir seu novo lar. Era uma residência fascinante. Todo mundo ficava apaixonado por ela (exceto sua esposa). 
            A história consiste no seguinte: no reveillon de dois mil e cinco, o casal chegou de uma festa, de madrugada (provavelmente bêbado), com um casal de adolescente do primeiro casamento do marido e uma menina de três anos, filha da esposa do casamento anterior. Ao dormirem, os adolescentes deixaram ligado um ventilador ou computador ou um quebra-luz, segundo várias fontes contraditórias, então um desses utensílios, incendiou-se, propagando para o forro de madeira e para outros objetos domésticos e demais compartimentos. O esposo, segundo algumas fontes, como dormia em quarto próximo da porta de saída, logo saiu com a mulher, mas ela viu que sua filhinha ainda não havia saído, voltou imediatamente para socorrê-la; os adolescentes estavam presos na suíte, pois o teto era de concreto. Neste ínterim, a vizinhança chamara corpo de bombeiro, mas a casa ardia em chamas e fumaça. A mãe conseguiu sair, mesmo muito queimada, com a filha com poucas queimaduras, mas intoxicada com a fumaça e foram levadas ao pronto-socorro pelos amigos, enquanto os bombeiros combatiam o fogo e resgatavam os adolescentes por um orifício que fizeram na lateral da casa. A criança falecera no caminho do hospital por causa do dióxido de carbono inspirado, e a mãe, horas depois, no hospital, em conseqüência das queimaduras de terceiro grau pelo corpo todo.
            A esposa temia por essas pessoas terem morrido dentro da casa, porém ela investigou com os vizinhos para saber estritamente o que ocorrera e constatou que não morreram . Ficou um tanto aliviada, todavia, ainda muito chocada e nervosa com tudo isso. Era uma mulher repleta de fobia, superstição, dogma e crendice, como nunca se viu. Então ele teve ideia de chamar um padre ou pastor para benzer a casa. Ela aceitou. Um obreiro veio pregar para ela e ungiu a casa com óleo e disse que teriam que fazer um voto e ofertar à igrejaDeus é Amor” e assistir a um culto. Assim eles fizeram. Mas ela nunca superou totalmente esse caso. Queixava-se de que a casa era malfalada. Ele dizia que não,  que as pessoas que são maldosas e por isso falam mal das coisas e dos outros. Ele falava que esse enredo não tinha nada a ver com eles, uma vez que a história deles na casa começou quando se mudaram. O que passou com outra família não lhes interessava. Passou-se um ano e ela, de quando em vez, tinha recaída porque algumas crianças vizinhas vinham brincar com sua filha e relembravam o ocorrido. Passou-se um tempo, o casal conversando sobre a casa, o fato passado. Ela perguntou para ele se tinha visto ou ouvido algo estranho, anormal, assustador, sobrenatural na casa. Ele disse que sim. Ela quis saber o que era porque isso lhe motivaria a sair de , mas ele respondeu que o que lhe assustara foi a fatura de água que deu duzentos e dezessete reais, uma verdadeira assombração.

Esse conto é uma reedição.

Bento Sales

domingo, 21 de outubro de 2012

Haicai 10

Pintura de Taciane, minha filha com sete anos, então com cinco.


Como tudo no Japão é diminuto e eficiente, o haicai não uma exceção.
Para quem não conhece, haicai é um pequeno poema de origem japonesa que surgiu no século XVII com Matsuo Bashô, Kobayashi e Issa. É caracterizado pela condensação, temática paisagística e estações do ano.  Valoriza a concisão e a objetividade. Chegou ao Brasil no início do século XX e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos em todos país. No Japão e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku. O Haicai é feito da seguinte forma:

Tem 17 sílabas poéticas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas.
  1  2   3     4    5
Ra/ í /zes/ plan/ta/das
  1    2    3     4    5   6     7
No/ vas/to/ cam/pó/ do/ cor/po
  1   2   3    4   5 
Ca/su/los /de/ so/nhos" (Zemaria Pinto)

Temos bons praticantes do haicai, como Millôr Fernandes, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Bacellar, Zemaria Pinto, Aníbal Beça, Guilherme de Almeida e muitos outros.
Quero agradecer a amiga Elisa T. Campos do blog  Pintando Haikai   e o grande amigo Cristiano Marcell do blog  Haicai e Não Machuca por terem me cedido seus maravilhosos haicais para esta postagem.
Eis alguns exemplos de haicais de vários autores e após, os meus:

Velho tanque
 uma rã salta
barulho d'água
   (Bashô)


com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério
                    (Millôr Fernandes)


quem ri quando goza
é poesia
até quando é prosa
                    (Alice Ruiz)

Me perdi ao olhar
o desanuviar das brumas
gaivotas a bailar. (Elisa T. Campos)

Um voo bonito
parece que estão indo
pro infinito! (Cristiano Marcell)



 E a agora os meus haicais:

  
Vê-se, pelo menos,
Uma estrela deslumbrante
Na aurora: é Vênus.

Dá-me sempre um tédio
A política que não sara
Com nenhum remédio.

Plaina com estilo
De árvore, em árvore,
Um alado esquilo.

Canta mui melhor
À medida que envelhece
O macho curió.

Tubarão-martelo
Com nosso macaco-prego
Será que tem elo?


É como um caudilho,
Que quer comandar no rio
O grão crocodilo.

Ao mudar as penas,
O pássaro nunca dá
Um chilro apenas. 

É sempre no outono
Que as folhas se precipitam
Perdendo seu trono.

Sempre à cor da mata
O camaleão, quando nasce,
Logo ele se adapta.

Preso numa gaiola,
Curió na solidão
Ainda cantarola.