Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.
Alunos, leitores e amigos costumam
me perguntar o que são poesia, poema, poeta e poetisa, diante disso, resolvi
fazer esse texto tentando ser o mais objetivo e didático possível para que eu
lhes faça assimilar o assunto. Para quem tem referências literárias será fácil,
mas quem não tiver será um pouco mais
dificultosa a apreensão do assunto por ser um tanto complexo.
Desde pequenos,
ouvimos falar em poesia, que alguém sabe fazer poesia, o poeta lançou seu livro
de poesias, o professor declamou uma poesia e etc., e o conceito vai fixando em
nossas mentes, todavia, não nos preocupamos com sua verdadeira definição.
Quando vamos ao dicionário, deparamo-nos com termos vagos como: “poesia é uma
composição poética de pequena extensão”; ou “poesia é arte de compor ou
escrever em versos”. Até aqui ainda não temos uma definição ou conceito sobre
poesia e sim uma noção (imprecisa). Então, ao recorrermos à teoria literária,
percebemos que ainda, deveras, há muito o que se aprender sobre poesia, em
razão de sua complexidade. A Teoria da Literatura define poesia como um gênero
literário, que pode ser dividido, nas categorias épica, dramática e lírica. Também
conceitua como experiência cósmica do poeta, a soma de sua obra. Poesia pode
ser também o conjunto do fazer poético em certo tempo ou espaço. Enfim, as
definições são diversas e, muitas vezes, subjetivas. Enquanto o poema, para a
definição ficar mais didática, é uma das maneiras em que a poesia se manifesta;
é a composição, um conjunto de versos dispostos sob certos preceitos literários
ou arbitrariamente pelo poeta. Poesia e poema são termos totalmente distintos,
ou seja, existem independentes um do outro, mesmo que venham da mesma raiz grega
(poesia: fazer; poema: o que se faz). É possível haver um poema desprovido de
poesia, mas é um poema (e há muitos por aí). Como também existe poesia sem
poema. Há poesia no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, em O Crime de
Padre Amaro, de Eça de Queiroz, no Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosas, na
obra de Van Gogh, na Monalisa, de Da Vinci, no quadro o Abaporu, de Tarsila do
Amaral, num pôr-do-sol no rio Amazonas, numa paisagem, no céu estrelado, enfim,
em tudo que é belo, pois poesia é uma unidade de valor e beleza. Enquanto que o
poema, que contém poesia, traduz em vocábulos o que o poeta-artista distinguiu
no ser da poesia, que pode ser traduzida em música, a poesia das imagens, a
poesia que dispensa palavras e fundamenta a linguagem. Não é somente pela forma
que a poesia se expressa, mas também pelo conteúdo. Pelo simples fato de
fazermos um poema rimado, não quer dizer que tenha poesia, de igual forma, um
texto em prosa, é possível, sim, conter poesia. Já vi muitos livros intitulados
de “Poesias Completas de Beltrano”, isso é um equívoco, uma vez que a poesia é
única. Deveria ser “Obra Poética completa de Sicrano”. O grande poeta mexicano,
Octavio Paz disse: “se o homem se esquecesse da poesia, esquecer-se-ia de si
próprio. Voltaria ao caos original”.
O
poeta é simplesmente o artista que engendra, compõe e faz obra poética, ou
seja, uma obra que contenha poesia, que é algo de grande valor, beleza e
sabedoria. Em virtude de o poeta declamar, têm sinônimos de cantor: bardo,
trovador, lírico, versejador, rimador e quejando.
Poetisa, segundo a didática do dicionário, é
“uma mulher que faz poesias”. No entanto, não é uma palavra eufônica para
designar alguém que faz algo tão grandioso, porque, a princípio, tem-se a
impressão de que o termo “poetisa” designa a esposa do poeta, como: embaixador=embaixatriz
(mulher embaixador) profeta=profetiza (mulher que faz profecias), papa=papisa
-feminino de papa- (sabe-se que nunca existiu uma). Diante disso, a palavra
poeta é usada há muito e em larga escala na forma comum de dois gêneros, a
saber, o poeta, a poeta. Talvez aceitem a sugestão na próxima reforma
gramatical. Em suma: poesia: unidade de valor, beleza e sabedoria; poema: uma
das inúmeras formas em que a poesia se manifesta, poeta: alguém que sua obra
contém poesia e poetisa é (indevidamente) o feminino de poeta.
Referências bibliográficas:
O TEXTONU - Zemaria Pinto;
Dicionário Houaiss – Antonio
Houaiss;
Dicionário Aurélio – Aurélio
Buarque de Holanda;
DICIONÁRIO DE TERMOS LITERÁRIO –
Massaud Moisés;