Desenho de Taciane, minha filha com sete anos.
Desenho de Ana Flávia, minha sobrinha com cinco anos.
Fiz este cordel em dois mil em
parceria com meu amigo e colega de graduação, Maurício Colares, que é um exímio
poeta, para apresentarmos num trabalho sobre a escola literária Trovadorismo,
de onde a Literatura de Cordel é oriunda. Então, aproveitando o tema vigente,
que era profecia do fim do mundo, fizemos o cordel como exemplo. Como o tema é
oportuno, eu o atualizei e o adaptei com o momento. Espero que gostem. Quero
desejar (se sobrevivermos) a todos os amigos visitantes do Folhas Soltas um Natal
e Ano-novo fartos de saúde, paz, realizações e sonhos que sempre precisamos e
merecemos.
Agora caros senhores,
Senhoras e senhoritas,
Vamos prosear de um assunto
Há muito bem badalado:
É do dia do fim do mundo,
Que já tem prazo marcado.
Porém, voltemos um pouco,
Pois preveem o fim do mundo
Desde o nosso surgimento;
Mesmo isso sendo infundo,
Nos causa grande tormento
E sentimento profundo.
Quando Deus criou o mundo,
Era tudo maravilha:
Adão não fazia esforço
De fechar nem a braguilha
E Eva não ia à cozinha
Nem para arear a vasilha.
A única concessão
A uma fruteira foi ter,
Dizendo Deus a Eva e Adão:
Mas o homem foi seduzido
E não resistiu ao
prazer.
Então, o homem, nesse dia,
Deixou de ser imortal,
Passando a sobreviver
Do seu labor semanal
E, depois de tanto sofrer,
Teve a morte por final.
Mas, enquanto ela não vinha,
De cilada surpreendente,
“De fome um pouco por dia”
Vive o homem decadente
Nos pecados derramados
Por serem tão calientes.
Deus, então, mandou Noé
Se empenhar na providência
De reunir todas espécies
Na sua arca com muita urgência,
Pois, em suas mãos estaria
A nossa sobrevivência.
Eita, que grande chuvueiro
Passou toda a humanidade
Dentro dessa arca lacrada,
Contrita e com ansiedade
Durante quarenta dias
E noites de tempestade!
Ora, sabeis que a natureza
Tem as suas leis inerentes:
Chegará a morte um dia
A todos entes viventes
E a todos que temos vida
Não há de ser diferente.
E vem o apóstolo João
Fazendo revelações
Sobre uma grande hecatombe
Deletéria das nações,
Que acabará com a Terra
E seus filhos aos bilhões.
Diante dessa profecia,
A humanidade mui intenta
Debalde vaticinar
Nosso fim e fica atenta
À data do apocalipse,
Que muito lhe apoquenta.
Todavia, o Nostradamus
Foi quem mais nos comoveu,
Já que acertou até mesmo
O dia em que ele faleceu
E previu três anticristos:
Um não ainda apareceu.
Pelo Napoleão passamos
E pelo Hitler também
E pelas duas grandes
guerras
E por desastres além.
Agora nos indagamos:
Será o que que mais vem?
Então, no dia onze de agosto,
Muita gente fez besteira
Vendendo tudo que tinha,
Pena que eu estava sem eira,
Senão, teria até comprado
DVD, TV, geladeira...
Alguns pularam de pontes,
Abandonando seus clãs;
Outros foram pra Brasília
Levando filhos e mães
Para pedir proteção
Ao Lula e ao Magalhães.
Igrejas havia vendendo
Terrenos no etéreo lar.
Até meu amigo Jeordane
Ainda foi um destes comprar,
Mas não quitou o carnê,
Então, vieram lhe tomar.
E na data prefixada,
Ao espetáculo especial,
Foi todo mundo assistir
A esse show sensacional,
Mas, que decepção: veio apenas
Uma chuvinha normal!
E todos que são descrentes
Do fim sobrenatural,
Fiquem de olho, entretanto,
Ao que nos vem fazer mal:
Os enlatados ianques
E um batonzinho fatal.
Para aqueles que temem,
Fiquem mui bem preparados!
É o conselho que damos
De amigos bem informados,
Pois o dia do fim do mundo
Sempre será remarcado.
É dia vinte e um de dezembro
Deste, é a data, embora
Ainda temos a esperança
De não ser a fatal hora.
Será mais um falso anúncio?
Quem sabe, não é agora?
Trata-se de nosso fim
Como o Calendário Maia
Foi interpretado assim,
Mas é mais uma tocaia
Para nos causar chinfrim,
Que de nós merece vaia?
Pois, saber o fim do mundo
É busca sempre em vão;
Temos é que viver bem
Sem perdermos a razão,
Porque Cristo nos falou
Que virá como um ladrão.
Bento Sales e Maurício Colares.
Manaus, 11/08/2000.