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sábado, 28 de janeiro de 2012

Antithesis vitae

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.


Não                                
Sim
Treva
Luz
Fome
Saciedade
Pranto
Riso
Saúde
Doença
Ingenuidade
Sapiência
Bem
Mal
Certo
Errado
Bom
Mau
Incipiência
Experiência
Puerícia
Adolescência
Ônus
Bônus
Labor
Ociosidade
Glória
Desdita
Ilusão
Desilusão
Alegria
Melancolia
Vigor
Debilidade
Beleza
Fealdade
Juventude
Senectude
Lucidez
Senilidade
Benquisto
Malquisto
Vida
Exício
Superno
ou
Averno.


domingo, 15 de janeiro de 2012

Literatura de Cordel

Lampião e Maria Bonita. Imagem da internet. 

Devido a muitos amigos leitores do Literatura (folhas soltas), sobretudo os irmãos portugueses, não conhecerem a Literatura de Cordel, decidi fazer esta postagem explicando.


Conceituação
           
Romanceiro popular nordestino, em grande parte, contido em folhetos com impressão artesanal (xilogravura, que é arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira) e expostos à venda pendurados em barbante ou cordel (espécie de cordão, barbante; daí, a origem do nome cordel) nas feiras e mercados públicos. São feitos em linguagem simples e popular narrando temas diversos em versos. No princípio, era cantado, agora é recitado em voz alta para platéia.


Origem
            


O cordel é oriundo das Canções de Gesta medievais, que eram poesias de temas guerreiros e chegaram à região ibérica através da influência francesa, que teve nas novelas de cavalarias, o Ciclo Carolíngeo, que narravam as peripécias de Carlos Magno e os doze pares da França. A literatura popular nos foi trazida pelos colonizadores portugueses em suas bagagens e encontrou no Nordeste brasileiro ambiente propício, por razões étnicas e sociais.

Métrica

            Contando-se com os gêneros mais utilizados ou os que já foram abandonados e com o improviso, a “Poesia Popular” possui 36 modalidades, número verdadeiramente espantoso, que vem, através dos tempos, demonstrar o grande poder criativo dos nossos bardos matutos. Eis as principais:
1-      Sextilha (6  linhas): é a métrica mais comum. A rima é feita em redondilha maior, ou seja, na sétima sílaba poética com 3 versos brancos, exemplo:

Quero ter mais do que nunca
Muito mais inteligência
Para escrever estes versos
Com a maior competência.
Falar da Universidade,
O universo da sapiência.
(Codel da Universidade, Bento Sales)


 2-      Sete linhas ou pés: o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto, exemplo:  

     Fui moço, hoje estou velho!
     Pois o tempo tudo muda!
     Já fui um dos cantadores
     Chamado Deus nos acuda ...
     Este que estão vendo aqui
     Foi Zé Duda do Zumbi!
     Hoje Zumbi do Zé Duda!
     (Manoel Galdino da Silva Duda)


       3 - Moirão (5 e 6 pés): é um duelo que consiste em os cantadores revezarem dentro da mesma estrofe, como num diálogo, exemplo:
   I -  Seu Romano, estão dizendo
           Que nós não cantamos bem!
     R-  Pra cantar igual a nós,
           Aqui, não vejo ninguém!
     I -  E o diabo que disse isto
           É o pior que aqui tem!
(Romano e Inácio)
     
4-      Moirão de sete pés: este é o mais usual. É feito com estrofes de linhas em que o principiante do duelo faz os cinco versos, ou seja, os dois primeiros e os três últimos; já o segundo cantador está encarregado de fazer os restantes ordenados em três e quatro, exemplo:

  A.L. Não vã você achar ruim
               Este Mourão a doer!
       J.B.  Eu acredito, Agostinho
               Naquilo que posso ver!
       A.L.Companheiro, não se gabe,
               Que a pessoa que não sabe,
               Agrava a Deus sem querer!
(Agostinho Lopes dos Santos e José Bernardino de Oliveira)

5-      Moirão trocado (repetição de palavra): A diferença deste gênero para o anterior é basicamente no surgimento de palavras (repetidas) que se alternam nas quatro primeiras linhas da estrofe, exemplo:


 L. Eu, da graça, faço o riso,
           E, do riso, faço a graça!
       P. E da massa, faço o pão,
           E do pão, eu faço a massa!
       L. Você desgraçou a peça:
           Que u'a misturada dessa
           Não há padeiro que faça!
 (Lourival Batista e Severino Pinto
)

 6-      Moirão que você cai (12 pés): Este também é muito semelhante aos anteriores. Aqui, o cantador iniciante é encarregado de formar os versos: primeiro, segundo, terceiro, sétimo, oitavo, décimo, décimo primeiro e décimo segundo e os demais versos ficam a cargo do segundo cantador, exemplo:


   L. Meu irmão, a hora é esta,
          De travar-se um desafio!
          Lá vai uma, duas e três ...
     O. Mas, em luta eu não confio
          Porque desanima a festa!
          Lá vai quatro, cinco e seis ...
     L. Meus versos ninguém detesta
          Porque desafio distrai!
     O. Cuidado que você cai...
     L.  Caio tomando sorvete,
          Você levando cacete,
          Se for por dez pés lá vai!
( Lourival e Otacílio)


7-      Moirão voltado (13 pés): neste gênero, criado mais recente, os contendores alternam-se até o oitavo verso, para que, em seguida, juntarem suas vozes, como num coro, como neste refrão:
      
Isso é que é Mourão voltado,
     Isso é que é voltar Mourão!

Depois repetem a oitava linha com o refrão acima, cantador A x B:
   
A. Tudo, neste mundo, volta.
     B. Com você, combino eu!
     A. Volta o rico e o plebeu;
     B. Volta quem prende e quem solta ...
     A. Volta a paz e a revolta;
     B. Volta o sim e volta o não!
     A. Volta até Napoleão
     B. Que há tempo está sepultado...
     A/B Isso é que é Mourão voltado,
     Isso  é que é voltar Mourão!
     Que há tempo está sepultado...
     Isso é que é Mourão voltado,
     Isso é que é voltar Mourão!

 8-      Décima (7 sílabas, mote): Este gênero vem desde o princípio do cordel. É caracterizada pelos motes, com estrofes de dez versos de sete sílabas poéticas. As rimas estão distribuídas desta forma: o primeiro verso rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo e o oitavo, como o nono, exemplo:


  As obras da Natureza
     São de tanta perfeição,
     Que a nossa imaginação
     Não pinta tanta grandeza!
     Para imitar a beleza
     Das nuvens com suas cores,
     Se desmanchando em louvores
     De um manto adamascado,
     O artista, com cuidado,
     Da arte, aplica os primores.
(Antônio Ugolino Nunes da Costa)

9-      Martelo agalopagado (10 linhas): este gênero foi criado pelo violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima. É uma estância de dez versos e tem a mesma regra de rima da Décima. A origem do nome vem do diplomata francês Jaime Martelo, do século XVII, que também foi professor de literatura na Universidade de Bolonha, que foi precursor do estilo. Ele retirou os dois últimos versos da Oitava de Ariosto, formando o que chamou de Martelo cruzado, exemplo:
  
   Quando as tripas da terra mal se agitam,
     E os metais derretidos se confundem,
     E os escuros diamantes que se fundem,
     Da cratera ao ar se precipitam.
     As vulcânicas ondas que vomitam
     Grossas bagas de ferro incendiado,
     Em redor, deixam tudo sepultado
     Só com o som da viola que me ajuda,
     Treme o sol, treme a terra, o tempo muda,
     Eu cantando Martelo agalopado.
                                    (Lira Flores)

Veiculação, ambientação, adaptação e o artista popular

            O Nordeste ofereceu um cenário ideal que tornou forte, atraente e vasta a Literatura de Cordel. Duas razões foram fundamentais para essa perfeita adaptação. A primeira consiste nas condições étnicas, que é o encontro do lusitano com o africano escravo, onde se fez de maneira estável e contínua. Com o tempo, deram-se a fusão e absorção de influências mútuas. A segunda é o próprio ambiente social que oferece condições que propiciaram o surgimento dessa forma de comunicação literária. A difusão da poesia popular através de cantadores em grupo ou forma escrita.
            O cordelista é geralmente de origem humilde, e, sobretudo, de pequena cidade e da zona rural. Hoje os encontramos nas grandes metrópoles, não só na região Nordeste, mas também em todo país. O poeta popular, não raramente, além de artista, é empreendedor: faz o romance, imprime-o em sua tipografia rudimentar, confecciona a capa (muitas ainda são feitas até hoje com xilogravura) e comercializa em pontos estratégicos. Agora com o advento do computador, a impressão está muito mais fácil.


Cíclos temáticos

          
  Português: antigo, cavaleirescos, novelescos, cativos e renegados, mulheres valentes, homens bravos, aventureiros e valentes, histórico, religioso, hagiográfico e etc.
            Brasileiro: O desafio real ou imaginário, históricos tradicionais, cangaço, Antonio Silvino, Lampião e Maria Bonita, seca, retirante, vaqueiro e vaquejada, histórias bíblicas, profecias, Getúlio Vargas e sua morte, crime, desastre, guerra, temais circunstantes e muitos outros ciclos.

Considerações finais
            
A Literatura de Cordel foi utilizada, a princípio, também como veículo de comunicação, tanto em Portugal e suas colônias, como na Espanha e seus domínios, mas este perdeu vez para o jornal quando se popularizou.
No Brasil, isso não ocorreu. O cordel inovou nos temas, tornando-os variados e aleatórios e o artista se classificou como “poeta popular”, que é aquele que faz o cordel e o cantador-repentista, que é quem faz repente e desafio orais acompanhado por viola (mais comum hoje) ou violão. Esta subdivisão da literatura popular (o repente) é considerada pelos estudiosos e críticos do assunto, como Câmara Cascudo, como parte do folclore nordestino e não da Literatura de Cordel.
Diferenças básicas entre o cordel e o repente:
O cordel é escrito e declamado, geralmente para uma platéia; às vezes, pode até ser musicado, mas a letra é pré-escrita. Enquanto o repente é feito de improviso e cantado acompanhado com viola ou violão. O evento mais comum são os desafios, que consistem em um embate, onde os dois cantadores tentam vencer seu adversário rimando o máximo possível ao defender um tema ou ofendê-lo até esgotar as rimas possíveis. Se alguém, por exemplo, gravar o repente e escrever, então não mais será um repente, mas um cordel.

Este texto foi um trabalho escolar que fiz quando estudante do ensino médio.

Referências bibliográficas:

AUTORES Vários. Literatura Popular em Verso. São Paulo
      Ed. da Unic. de São Paulo 1986.


Bento Sales.