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domingo, 29 de abril de 2012

O Mapinguari

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.

Uma empresa foi coletar látex dentro da Selva Amazônica com um pequeno exército de soldado da borracha. Preparam-se para enfrentar as adversidades da floresta tomando vacina contra a malária e febre amarela. Tudo ia muito bem até que, no sétimo dia, quando foram almoçar, mas não encontraram a comida pronta:
- Cadê o almoço, mano? Indagavam em uma só voz.
- Seu preguiçoso, não fez a comida! Outro protestava.
- Estava dormindo, era? Outra voz insultava.
- Calma, gente, não foi nada disso, não! Eu fiz a comida, como de costume, mas ao meio dia, escutei um grito rouco do lado esquerdo do acampamento e fui verificar o que era, porém não vi nada. Quando voltei para a cozinha aqui, no acampamento, deparei-me com um monstro gigantesco como o King Kong pegando uma por uma as panelas fervendo e as entornando em sua enorme boca localizada no meio da barriga. Como eu o vi de costas, a princípio, pensei que ele estava derramando em seu umbigo, então olhei de lado e percebi que havia uma boca na barriga dele. Podem vir aqui olhar as panelas sujas e fedorentas! Defende-se o cozinheiro.
- É o Mapinguari! Alguém sugere.
- Que nada, isso é só uma lenda! Este leso estava era dormindo e sonhou. Resmungava um famélico.
Foram investigar a estória. Viram pegadas estranhas, meio arredondadas, como se os pés fossem virados para trás. No dia seguinte, o fato se repete:
- Meu irmão, deixe de brincadeira! Quer nos matar de fome, é?  Alguém reclamava.
- Não se trata disso, não! O problema é que eu faço a comida, mas vem o monstro que lhes falei ontem e come tudo sem eu poder fazer nada, pois nem arma de fogo eu tenho, somente as facas da cozinha. Como posso enfrentá-lo assim? Ele é grande e forte e muito catingoso. Ninguém aguenta. Explica-se o cozinheiro.
- Desse jeito, não pode ficar, não!
- Pois bem, amanhã eu virei ao meio dia e quero ver se esse macaco superdesenvolvido vai nos deixar com fome outra vez. Decide o valentão da turma. No dia seguinte, às onze horas e quarenta minutos, todos ficaram à espreita do Mapinguari. Todos, exceto o cozinheiro e o corajoso, esperavam em cima das árvores. O valente fez uma tocaia próximo da cozinha. De repente, ouviram um ruído rouco próximo ao acampamento. Um forte cheiro de gambá insuportável aumentava paulatinamente. Todos tremiam de medo. O barulho de galho quebrando se intensificava cada vez mais. Num farfalhar das folhas secas, abriram-se os galhos e revelou-se uma criatura semelhante aos gorilas das montanhas africanas; ora andando em quatro patas, ora em duas. Ao chegar ao campo aberto, ficou bípede e sondou o ar no rumo à cozinha. Todos colocaram a mão no nariz e ficaram trêmulos observando aquele gigante com pelos grandes e avermelhados, com uma bocarra no meio da barriga, como descrevera o cozinheiro, garras enormes como as da preguiça, um só olho grande na testa, igual ao de um ciclope, mãos e braços desproporcionais, pés virados para trás (lembrando o Curupira), com uns dois metros de altura e envergadura com aproximadamente um metro e vinte centímetros. Seguiu direto para a cozinha. O valentão indo atrás com uma espingarda de chumbo doze milímetros e um machado arqueado, tão bem afiado que o gume brilhava no sol do meio dia. Ao chegar à cozinha, pegou a panela com carne de caça fervente e entornou na bocarra no meio tronco. O corajoso se aproximou cerca de cinco metros traiçoeiramente, mirou na cabeça e disparou: poouu!  O Mapinguari parou por cinco segundos e continuou a despejar o conteúdo da panela em sua boca e jogou a panela já pegando outra. O intimorato jogou de lado a espingarda, firmou o machado com as duas mãos, ficou na ponta dos pés e desferiu um golpe bem na nuca do monstro, mas ele nem se abalou: parou de derramar a comida em sua boca, colocou a panela em cima do fogão de lenha, coçou a nuca com uma garra grande e adunca, olhou para cima e tornou a devorar a comida. O herói e todos seus companheiros, que caíram das árvores, correram cada um para seu lado se escondendo na selva, exceto o cozinheiro, pois sabia que o monstro não mexeria com ele porque só queria sua comida.

Bento Sales


sábado, 14 de abril de 2012

Haicai 8

Desenho de Taciane, minha filha com seis anos.

Haicai, haikai ou haiku é um pequeno poema de origem japonesa com aspecto formal de três versos. O primeiro verso tem cinco sílabas poéticas; o segundo sete e o terceiro cinco:

  1    2     3    4   5 
Co/mo/ que/ le/va/da

  1   2   3    4       5   6   7
Pe/la/ bri/sa, a/ bor/bo/le/ta

  1     2   3       4      5 
Vai/ de/ ra/mo em/ ra/mo. (Matsuô Bashô)

A tradição nipônica faz com verso branco e métrica perfeita, mas, no Brasil, tanto é praticado com verso livre quanto rimado (eu gosto de rimado), sobretudo por Millôr Fernandes, que o tenho como referência. Aqui, no Amazonas, há muito haicaístas, como Luiz Bacellar, Aníbal Beça e Zemaria Pinto, que foi meu professor. A idéia central do haicai é paisagística e filosófica, porém os brasileiros abordam temas diversos, por exemplo, político, humorístico. O pioneiro em fazer haicai foi  Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer dele uma prática espiritual. A seguir, darei exemplos de haicais de autores diversos e depois os meus. Quero agradecer minha amiga Elisa T. Campos do blog  Pintando Haikai    por ter me cedido seus haicais para esta postagem e pela bela homenagem que me prestou.

Rompendo a quietude,
O alarido das cigarras
Vibra nos rochedos.
(Matsuô Bashô)

Numa flor, somente,
A libélula não pousa;
Na espuma do mar.
(Matsuô Bashô)

Em cima da neve,
O corvo esta manhã
Pousou bem leve.
(Millôr Fernandes)

Vem cá, passarinho
E vamos brincar nós dois
Que não temos ninho.
(Millôr Fernandes)

Do São Bento,
Voa a meia de mulher
Perseguida pelo vento.
(Millôr Fernandes)

Pluma de pássaro
Pousa suave no pátio –
Nasce um cabelo branco.
(Aníbal Beça)

Folhas abafadas:
Desperta o uirapuru
A manhã da selva.
(Anílbal Beça)

Jato de chuveiro.
Resplandor de água.
Santo de banheiro.
(Luiz Bacellar)

Floresce o jambeiro:
Há um tapete róseo
No chão de janeiro.
(Luiz Bacellar)

O sapo, num salto
Cresce ao lume do crepúsculo
Buscando a manhã.
(Zemaria Pinto)

Reflexo de sol
No vermelho das espigas
- Tempo de colher.
(Zemaria Pinto)

Abrindo um antigo caderno
Foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.
(Paulo Leminski)

Pupa rompida
Ensaia o primeiro voo
Borboleta azul.
(Elisa T. Campos)

Dois leques
Ladeiam a rede elétrica
Sibipirunas em flor.
(Elisa T. Campos)

E agora os meus haicais:
Permanece azul,
Pura e cristalina a água
Do Lago Mashu.

Anuncia o arrebol
Matinal com seu gorjeio
Alto o rouxinol.

No céu, infinito,
Vagam os cirros diáfanos
De tempo finito.

Foi com muito alarde
Que ocorreu o eclipse lunar
Já em plena tarde.

Estrela-diamante
Segue percurso lunar
Com olho a brilhar.

Será dia chuvoso
Se o céu estiver repleto
De estrato ou nimboso.

Rã pula no lago,
Que a recebe com sorriso
E com um afago.

Lua brilha no Céu;
A nuvem cobre seu rosto
Como um branco véu.

Após Sol se pôr,
Resplandece cirro-nimbo
Com face em rubor.

Deixa-me mui lasso
A estação formada por
Um denso mormaço.

É no mês de março
Que o clima ameniza na
Polis do mormaço.

Lua muito brilhante
Observa-me pela fresta
Do meu basculante.



domingo, 8 de abril de 2012

Lucidez

Desenho de Taciane, minha filha com cinco anos.
 

Não te adoro
Porque não és deusa;
Não te venero,
Visto que não és ninfa;
Não te desejo,
Uma vez que não és objeto;
Não te amo loucamente,
Pois amar assim é próprio dos débeis;
Tampouco tenho por ti paixão,
Já que não sofro;
Apenas te gosto
E, portanto, sou feliz.



Minha amiga Elisa T. Campos, do blog http://pintandohaikai.blogspot.com.br/, que é exímia haicaísta, faz uma bela postagem em homenagem a mim e minha filha.

 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Meme Conheça o Blogueiro

Desenho de Taciane, minha filha com cinco anos.



Esse meme me foi indicado pelo amigo Jacques, do blog     http://relativaseriedade.blogspot.com.br/,onde  você encontra sabedoria e sobretudo humor de primeira.  Muito obrigado, meu amigo, pela lembrança! Conforme promessa, vou responder o questionário:

1 - Quando surgiu a ideia de criar seu blog?
Surgiu a partir de uma conversa que tive com um ex-aluno que me mostrou o seu blog e então tive idéia de criar um para publicar minhas escritas que se encontravam arquivadas em pastas pessoais, onde ninguém, depois de mim, tinha contato. Após vê-las publicadas, percebi que ganharam vida.

2 - Origem do nome do blog.
Embora escreva conto, haicai e poema , o que comecei escrever primeiramente foi cordel e quis  que o nome do blog  lembrasse essa literatura popular. Então peguei o nome de cordel em espanhol, que é “hojas sueltas”, que em português significa “folhas soltas”.  Ficou então, Literatura (folhas soltas), que quer dizer Literatura de Cordel.

3 - Você teve/ tem outros blogs além desse?
Não. Já acho que mal dou conta deste. Um blog é como uma planta: precisa ser cuidado, cultivado e regado, senão não dará frutos.

4 - Já pensou em desistir alguma vez de seu blog?

Sim. Quando um amigo blogueiro e grande incentivador faleceu, mas meus outros amigos (blogueiros também) me convenceram a continuar.

5 - Mande uma mensagem para os seus seguidores.
Tenho muito a lhes agradecer pelo incentivo através das visitas, comentários  sábios,inteligentes e gentis. Também queros lhes pedir desculpas por, muitas vezes, não lhes dar atenção que merecerem, pois são vocês, amigos, que dão vida ao blog.


Sobre o blogueiro:  Bento Sales

1 - Uma música: “Cidadão”, de Zé Ramalho. Eu me identifico muito com essa música.
2 - Um livro: “A Eneida”, de Virgílio.
3 - Um filme:  “Enigma de outro mundo”, de Jonh Carpenter.

4 - Um hobby: escrever.

5 - Um medo: mesmo tendo ótima visão, tenho medo de ficar cego.

6 - Uma mania: querer que tudo que eu faça fique perfeito.

7 - Um sonho: ver um mundo mais civilizado.

8 - Não consigo viver sem: ler.
9 - Tem coleção de alguma coisa? Sim. Coleciono palavras. Todas que eu pesquiso a acepção, guardo-as em um arquivo. Também tenho uma coleção de livro com cerca de duas mil unidades.
10 - Gostaria de fazer alguma pergunta para os próximos participantes?
Sim. Se ele vão responder o questionário (rs).

Eu indico esse meme para os seguintes blogs. Apesar de minha indagação, quem não quiser responder não há problema:

Bem, aqui finalizo esse meme lhes dizendo que me foi muito difícil fazer esta lista de blogs, pois tenho grande apreço por todos meus leitores, mas tive que escolher apenas dez.